"Pontes exercem um fascínio muito grande, não só pela beleza da obra que permite descortinar os horizontes, mas também porque nos ajudam a sobrepujar um obstáculo (por vezes as águas são tormentosas e o torvelinho pode nos arrebatar). No entanto, sem desconsiderar a sua importância, lembre-se que aquilo que aparentemente separa, é exatamente o que une. As águas que levam para longe são as mesmas que um dia hão de trazer de volta.
Talvez exista algum arquivo da memória que, em determinadas circunstâncias, devesse ser deletado, para não nos atingirem com as lembranças de algo que preferiríamos que nunca tivesse ocorrido. Deletar da memória é fazer com que não tenhamos consciência daquilo que um dia nos afligiu, mas não tem força para fazer com que nunca tenha havido. Nós somos produto, entre outras coisas, da nossa experiência de vida e crescemos muito mais na adversidade do que nos momentos felizes. Você sabia que a vinha, para dar um bom vinho, tem que ser cultivada em terreno seco e pedregozo e o esforço dispendido para crescer é exatamente o que há de lhe conferir uma doçura incomparável? De certa forma nós também somos assim (nem sempre). Por isso, antes de deletar os traumas que tanto nos incomodam, devemos lembrar que foram exatamente eles a dura forja da vida que ajudou a moldar a nossa personalidade e que, se novamente o destino os trouxer de volta, possuímos o antídoto, porque um dia já os enfrentamos.
Pontes ajudam a ultrapassar obstáculos, mas eles continuam lá. Esquecer não significa nunca ter existido. Um trauma ou um obstáculo, por vezes, poderá ser exatamente aquilo que precisávamos para que nos conheçamos um pouco mais, para a superação das adversidades. Se a ponte não nasceu ali, alguém a fez um dia."
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