sábado, 28 de setembro de 2013

Colisões entre grãos... semelhança entre nós

Lendo o artigo abaixo O PODER DAS COLISÕES  (IGOR ZOLNERKEVIC |Revista Fapesp   Edição 211 - Setembro de 2013)

 Achei parecido com o que ocorre conosco, quando nos agredimos, quando nos debatemos com outra pessoa, criando vínculo de antipatias e nos prendendo mais à pessoa...

Costumo dizer que laços de inimizade, rancor, ódio e antipatias, nos unem mais, que o amor. Agora com este artigo do Igor Zolnerkevic, posso entender como isso pode acontecer.

Paerece incrível mas quanto mais nos agredimos, quanto mais nos debatemos uns com os outros, mais vamos criando uma rede (nuvem tempestuosa de difícil saída)

... "quando o vento levanta uma camada de areia alguns centímetros acima do chão. Alguns desses grãos – os chamados sáltons – voam bem mais alto que os outros, ganhando ainda mais energia do vento, cuja velocidade aumenta com a altura. Eventualmente, os sáltons caem e criam mais sáltons quando colidem com os grãos da camada rente ao chão. O que as novas simulações mostram, no entanto, é que, antes de chegar perto do chão, um sálton pode colidir com vários outros grãos que saltam apenas um pouco acima da altura média, transferindo parte de sua energia para eles. Essas colisões no meio do ar gerariam ainda mais sáltons, engrossando as nuvens de areia das tempestades."

Como tudo na vida tem 2 lados, se olharmos para o artigo levando em conta o amor, entenderemos porque o amor sempre cresce e é imortal...Quem ama sempre dá energia a quem ainda ama menos...e amando vamos recebendo mais amor...

Se uma nuvem de lágrimas cairem do seu rosto, lembre-se de que alguém em algum lugar ama você do jeito que você é!
Um dia fleiz para você!

O poder das colisões
Choque entre grãos é o principal motor das tempestades de areia
IGOR ZOLNERKEVIC | Edição 211 - Setembro de 2013
© DAVID EAST / SCIENCE PHOTO LIBRARY
Tempo fechado: tempestade de poeira em estrada que liga as cidades de Melbourne a Geelong, na Austrália
Tempo fechado: tempestade de poeira em estrada que liga as cidades de Melbourne a Geelong, na Austrália

Os ingredientes básicos de uma tempestade de areia são, obviamente, muito vento e muita areia. Ainda assim, nenhum pesquisador havia conseguido criar um modelo físico com base nesses dois elementos que fosse capaz de explicar completamente a força dessas tempestades. Um trabalho de físicos brasileiros e estrangeiros publicado em agosto na revista Physical Review Letters (PRL) permite agora entender por que em regiões próximas aos grandes desertos da Terra, como o de Gobi, na Ásia, e o Saara, na África, as tempestades atingem dimensões colossais. Milhões de toneladas de areia e poeira podem ser soprados por milhares de quilômetros, bloqueando estradas, impedindo o tráfego aéreo, soterrando construções e erodindo o solo arável.
Antes os pesquisadores consideravam impossível simular em computador a trajetória de cada grão de areia de uma tempestade. Por isso os modelos costumavam assumir algumas simplificações. Uma delas é que, quando soprados pelo vento, os grãos virtuais nunca colidiam uns com os outros. Isso porque se acreditava que as colisões entre os grãos carregados pelo ar atrapalhassem o avanço das tempestades, encurtando a trajetória dos grãos. Agora uma equipe internacional liderada pelo físico brasileiro Marcus Carneiro, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH), na Suíça, concluiu o contrário. Comparando simulações com e sem colisões entre os grãos, os pesquisadores mostraram que os choques aéreos são fundamentais para aumentar o número de partículas carregadas pela tempestade.
“Para levar em consideração as colisões, é necessário desenvolver códigos matemáticos bastante eficientes e fazer uso de elevado poder computacional”, diz o físico português Nuno Araújo, também da ETH, e segundo autor do artigo que descreve o resultado, publicado na PRL. As novas simulações seguiram a trajetória de apenas um punhado de areia – cerca de 4 mil grãos soprados por um perfil de vento simplificado. Mas foram as primeiras que descreveram de modo realista as colisões aéreas.
Sáltons
As simulações mostram que as colisões mais do que dobram a capacidade do vento de transportar areia. Já era bem conhecido que as tempestades começam quando o vento levanta uma camada de areia alguns centímetros acima do chão. Alguns desses grãos – os chamados sáltons – voam bem mais alto que os outros, ganhando ainda mais energia do vento, cuja velocidade aumenta com a altura. Eventualmente, os sáltons caem e criam mais sáltons quando colidem com os grãos da camada rente ao chão. O que as novas simulações mostram, no entanto, é que, antes de chegar perto do chão, um sálton pode colidir com vários outros grãos que saltam apenas um pouco acima da altura média, transferindo parte de sua energia para eles. Essas colisões no meio do ar gerariam ainda mais sáltons, engrossando as nuvens de areia das tempestades.
Além de prever a intensidade de tempestades com mais precisão, o novo modelo deve mudar o que se entende sobre a formação e a movimentação das dunas de areia. Segundo Araújo, a teoria pode ser verificada em testes em laboratório, observando o movimento de grãos artificiais com diferentes propriedades elásticas.
Artigo científico
CARNEIRO, M.V. et al. Midair collisions enhance saltation. Physical Review Letters. v. 111, n. 5. 2013.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

FALTA DE VITAMINA B12

Leia nesta edição
Capa
Artigo: Hilda Hilst hoje
Cartas
Apoio à OMS
Leucemia aguda
Falta de vitamina B-12
Mandarim 27
Esporte para idosos
Drogas nas escolas
FOP 49 anos
Programa do Artista Residente
Painel da semana
Teses
Livro da semana
Cinema anarquista
Concurso de contos e ensaios

5
Diagnóstico inadequado e indisponibilidade de remédio levam a casos irreversíveis de anemia megaloblástica
Falta de vitamina B-12 está provocando doenças graves na população de idosos
A hematologista Sara Saad, coordenadora associada do Hemocentro da Unicamp:“Médicos e autoridades sanitárias estão subestimando a gravidade do problema” (Foto: Antoninho Perri)Diagnósticos incorretos e a falta de vitamina B-12 em postos da rede pública de saúde estão contribuindo para o surgimento no Brasil de novos e irreversíveis casos de anemia megaloblástica e neuropatias relacionadas à gastrite. A advertência é da hematologista Sara Teresinha Olalla Saad, coordenadora associada do Hemocentro da Unicamp. Segundo ela, médicos e autoridades sanitárias estão subestimando a gravidade e as conseqüências do problema.
Especialista do Hemocentro defende uma campanha de conscientização
A deficiência de vitamina B-12 tem prevalência crescente na faixa etária de 25 a 60 anos, e acomete cerca de 10% da população acima de 65 anos. Mas estudos norte-americanos demonstram que pelos menos 1% da população de idosos desenvolve conseqüências graves da doença, como distúrbios neurológicos e psiquiátricos e anemia megaloblástica (referência ao megaloblasto, glóbulo vermelho que se encontra na medula óssea). A vitamina B-12 é absorvida pelo trato gastrointestinal a partir de alimentos como leite, carnes e ovos.
A causa da deficiência de vitamina B-12 é uma gastrite desencadeada por diferentes mecanismos. Um é de origem imunológica: o doente destrói suas próprias células do estômago, fenômeno muito comum em mulheres acima de 25 anos e também em idosos, associado a doenças da tireóide e ao vitiligo. Outro, responsável pela maioria de úlceras e gastrites em homens e mulheres de qualquer faixa etária, é a bactéria Helicobacter pylori (H. pylori). A H. pylori pode ser diagnosticada por endoscopia e tratada com antibiótico. Sem essa providência, a gastrite torna-se uma lesão que, no prazo de cinco a dez anos, pode comprometer a eficiência da absorção de vitamina B-12.
“Uma hipótese para a alta incidência em idosos é que a deficiência não apareceu aos 65 anos, mas evoluiu ao longo dos últimos dez anos em que a gastrite não foi tratada”, pondera Sara Saad. “A reserva de vitamina B-12 no organismo é grande, mas quando cessa sua capacidade de absorção todo estoque é consumido sem que ocorra a reposição, podendo levar ao desenvolvimento da anemia”.
Desmielinização – Além da anemia, a deficiência da vitamina também causa a destruição de células neuronais, processo denominado desmielinização e que provoca neuropatias, como são chamadas as doenças do sistema nervoso, acarretando distúrbios comportamentais. Os sintomas mais freqüentes são: formigamento em ambas as pernas, queimação na sola dos pés, distúrbios da marcha e do equilíbrio (andar cambaleando com as pernas bem abertas para equilibrar-se). Em casos mais extremos ocorre também incontinência urinária por falta de controle do esfíncter.
“Quando esses distúrbios ocorrem no idoso, pensa-se logo que ele está ficando esclerosado por causa da velhice e fica tudo por isso mesmo”, observa Sara Saad, salientando que podem ocorrer ainda situações que simulam quadros psicóticos.
De acordo com a coordenadora associada do Hemocentro, o paciente tem freqüentemente perda do apetite e emagrecimento. Como nem sempre a anemia está associada a esses outros sintomas da deficiência, não há alteração no hemograma capaz de apontar o problema. Há casos até de se associar erroneamente esse quadro clínico a cânceres, sem que o problema real seja de fato atacado.
“Os médicos ficam investigando durante muito tempo e perde-se a oportunidade de cuidar adequadamente do doente. É comum pacientes com anemia grave receberem transfusão porque apenas desconfia-se de câncer. Ocorrem também associações equivocadas a doenças de medula óssea, tipo aplasia, e a outras alterações hematológicas. Mas essa não é uma doença para o hematologista, é para o clínico geral saber diagnosticar e tratar”, afirma a especialista.
Irreversível – Se a deficiência de vitamina B-12 é diagnosticada precocemente, a pessoa não desenvolve as complicações. Mas, infelizmente, lamenta Sara, não é o que vem ocorrendo. Como unidade de referência, o Hemocentro da Unicamp recebe em média dez pacientes por mês em estado gravíssimo, magérrimos, com níveis baixíssimos de hemoglobina, com graves distúrbios neurológicos, incapacitados de andar e controlar esfíncteres, porque há cinco anos estão com o quadro clínico ainda em investigação, sem o diagnóstico correto.
“A desmielinização provoca uma situação irreversível, ou seja, com tratamento o paciente pode melhorar um pouco, mas não recobra todas as funções, já que alterações neurológicas deixam quase sempre seqüelas”, salienta a hematologista. “Para ser reversível tem que tratar no começo. Mas na nossa casuística, quase todos são irreversíveis, porque chegam em estado muito grave”. Sara Saad conclui, então, que os médicos da rede básica de saúde não estão sendo capazes de diagnosticar precocemente a doença. “Existe uma falha grande desse diagnóstico e não é só na região, é no país inteiro”, observa. Ela completa: “Estamos vivenciando um problema de saúde pública que tende a se agravar, porque a nossa população está envelhecendo e, até agora, o conceito de saúde publica no Brasil foi o de cuidar da criança e do jovem”.
Campanha – A hematologista da Unicamp defende uma campanha nacional para conscientização populacional sobre a gravidade da anemia megaloblástica, semelhante ao que ocorreu com a anemia ferropriva (redução de glóbulos vermelhos por falta de ferro) na década de 1960 no Brasil. Naquela ocasião, lembra Sara Saad, criou-se a consciência na população para a importância do ferro na prevenção da doença. “Agora é preciso que o mesmo ocorra com a vitamina B-12 por causa dos riscos da redução dessa vitamina no organismo. É preciso uma mobilização para que o país produza e disponibilize na farmácia básica um medicamento tão barato para o tratamento”, reivindica.
Tratamento é de baixo custo mas medicamento some das prateleiras
O tratamento da anemia megaloblástica é de baixo custo e ocorre pela aplicação de vitamina B-12 no paciente. A injeção de 1 miligrama do medicamento custa R$ 3,50. Uma dose semanal durante três meses (totalizando R$ 42) e, depois, uma dose mensal para manutenção pelo resto da vida, já que a gastrite é perene, são suficientes para afastar conseqüências mais graves em casos diagnosticados precocemente.
A hematologista Sara Saad sugere que, no idoso, se faça um teste terapêutico com a administração da vitamina caso se perceba distúrbios da memória, irritabilidade anormal, formigamento nas pernas ou mãos, queimação nas solas dos pés, por exemplo. De acordo com ela, o remédio tem a vantagem de não produzir efeitos colaterais em alguém que não tenha a deficiência e pode colaborar para impedir a progressão de algum eventual problema.
“Aplica-se a injeção, às vezes até mais de uma dose, e faz-se o acompanhamento semanal do paciente para saber de sua reação. Geralmente ele relata um bem-estar que não consegue explicar o que é. Mas é porque melhorou da neuropatia, que deixa a pessoa muito cansada, com muita fraqueza muscular, muito inapetente”, conta a pesquisadora.
A dosagem de B-12 no sangue é um exame laboratorial também barato e acessível (não chega a R$ 5,00) e permite ao interessado saber como está o nível da vitamina no organismo antes da eventual aplicação do medicamento.
Produto some – Além da alta prevalência, da má conscientização da classe médica para a gravidade do problema e do despreparo para um correto diagnóstico, há um quarto agravante: a falta de medicação B-12 nas farmácias brasileiras desde novembro do ano passado. Uma amostra da situação é o que ocorre na região de Campinas, conforme constatação do serviço social do Hemocentro: o produto sumiu nas cidades vizinhas e só é encontrado em duas farmácias de Campinas, ainda assim em apresentações de 15 miligramas – o que implica em custo três vezes maior, já que essa quantidade é muito superior ao que pede o tratamento, que pede doses de apenas 1 miligrama.
“Além de não conseguirmos tratar os novos casos, muitos pacientes que já tiveram alta estão voltando ao ambulatório do Hemocentro por causa da falta do medicamento”, afirma Sara Saad. A vitamina B-12 é um remédio muito barato e, conforme observa a hematologista, para obter ganho de escala os laboratórios passaram a fabricar apenas apresentações com uma quantidade exageradamente alta da droga.
“Isso encarece desnecessariamente o tratamento, torna a aplicação da atual dosagem da injeção mais dolorida e não permite aproveitamento de toda a quantidade”, afirma. Ela acrescenta que há apresentações associadas com corticóides, substância absolutamente desnecessária para tratar deficiência de B-12. O remédio também é vendido em cápsulas, mas a absorção oral requer doses maiores e não é tão eficiente quanto a proporcionada por via intramuscular.
Denúncia – A coordenadora associada do Hemocentro conta ter denunciado a situação tanto à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (braço do Ministério da Saúde responsável pelas políticas de produção e distribuição de medicamentos para a população por meio dos postos de saúde) quanto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os dois órgãos ficaram de encaminhar soluções. O problema também chegou ao conhecimento do Colégio Brasileiro de Hematologia e da Sociedade Brasileira de Hematologia.
Postos cometem equívoco grave na prescrição
Sara Saad alerta para um equívoco gravíssimo que vem ocorrendo na prescrição de ácido fólico para pacientes medicados em postos de saúde. Indicada para tratamentos de desnutrição, alcoolismo e para mulheres em processos gestacionais contínuos, essa substância faz parte da fórmula de medicamentos vitamínicos disponíveis em grande quantidade na rede pública e receitados indiscriminadamente para todo tipo de anemia. Só que o ácido fólico piora as neuropatias de quem tem deficiência de B-12, já que essa vitamina é extraída do sistema nervoso durante o metabolismo do ácido no organismo.
“Além da piora das neuropatias, há o risco até de desencadear doenças do sistema nervoso a partir da ingestão do ácido fólico”, alerta a especialista. Outro erro dos médicos, segundo ela, é prescrever complexo vitamínico B para tratar deficiência de B-12. O medicamento, embora contenha outras vitaminas B, possui quantidade insuficiente para quem necessita repor B-12.
“Ocorre então que o paciente idoso anêmico é tratado inicialmente, e erroneamente, com ferro. Como não há melhora, mandam tomar ácido fólico. O doente volta ainda com o problema e prescrevem complexo B. Ou seja, não se está tratando deficiência de B-12 e até piorando a neuropatia”, salienta Sara.
Ela observa que isso acaba por mascarar todo o diagnóstico, quando não chegam ao extremo de realizar transfusão de sangue. “Aí torna-se impossível analisar corretamente os dados do hemograma. Por isso existem pacientes que ficam até cinco anos sendo tratados incorretamente de uma doença crônica e quando se descobre a verdadeira causa do problema já é tarde para recuperá-los”.





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ESQUECIMENTO NATURAL

SAÚDE
Esquecimento
natural precisa
de atenção,
diz neurologista

27/05/2013 - 17:53


O esquecimento é comum. O esquecimento é comum? Ou o esquecimento pode ser comum e não ser? A resposta pode ser acompanhada nesta entrevista do neurologista do HC Márcio Balthazar, pesquisador colaborador do Departamento de Neurologia da Unicamp, ao Portal Unicamp, que, entre uma pesquisa e outra no Laboratório de Neuroimagem, abordou inclusive o esquecimento patológico, um mal desse século, mas que sempre existiu. Para ele, o esquecimento pode ser comum, pela falta de atenção. Já o esquecimento patológico não tem cura, mas pode ser tratado com drogas que retardam os sintomas.
Portal Unicamp - O esquecimento é um dos males do século?Balthazar - Sim. Mas o esquecimento em geral não está, necessariamente, associado à doença cerebral. Em pessoas com idade abaixo de 60 anos, é muito comum queixas de esquecimento, mas que não têm essa ligação. Existem muitas causas de esquecimento em eventos do dia a dia relacionados à ansiedade, que é algo muito prevalente nos dias de hoje. Sintomas psiquiátricos ou psicológicos, como sintomas depressivos, sono insatisfatório, além da ansiedade, podem fazer com que a pessoa diminua a atenção quando executam certas tarefas do dia a dia. Então tendem a esquecer tais eventos. Isso pode não ser doença cerebral.
Portal Unicamp - Quais são as doenças cerebrais mais frequentes?Balthazar - A princípio, para uma avaliação de que tem queixa de memória abaixo dos 60 anos, habitualmente é fundamental fazer uma boa entrevista acerca das características de sua vida diária: presença de sintomas psiquiátricos, bom sono, boa alimentação. Afinal, muitas outras causas podem estar envolvidas, como por exemplo o uso rotineiro de determinadas medicações controladas. São os casos dos benzodiazepínicos e de outras medicações. Alguns psicotrópicos ainda podem diminuir a concentração. Assim, a pessoa menos atenta novamente armazena menos informações e tem maior dificuldade para evocá-las depois. Ha igualmente anemias crônicas, hipotireoidismo, falta de vitamina B12, entre outros fatores, que podem provocar esquecimento. Eles podem surgir com outros problemas gerais, como a apneia do sono. São pessoas que roncam e que, muitas vezes, têm 'microdespertares' à noite sem tomarem consciência disso. Em consequência, passam o dia com sono e com mais dificuldade de concentração. Isso é muito comum atualmente, contudo talvez o mais frequente seja a ansiedade mesmo, isso em geral abaixo dos 60 anos (embora exista doença cerebral em qualquer idade). Acima dos 60-65 anos é de suma importância ficar atento ao esquecimento como um dos primeiros sintomas da doença de Alzheimer, a quem se atribui cerca de 80% das demênciais mundialmente.
Portal Unicamp - Mas antes disso?Balthazar - Quando a pessoa se queixa muito da sua falta de memória, ela não tem esquecimento porque lembra do que esqueceu, enquanto algumas pessoas com doença de Alzheimer não acham que são esquecidas. Esquecem o que esqueceram. Quem vem relatando o que de fato aconteceu é o parente, quem mora junto. Já o muito queixador não tem problema, não pelo menos de origem cerebral.
Portal Unicamp - Quais os desafios encontrados pelo médico que lida com essa abordagem sempre?Balthazar - Para o médico, fica muito difícil separar o que é relacionado ao cerebral e ao que não é. Se a pessoa tem uma queixa consistente de memória, será que isso já é doença cerebral ou serão algumas das causas mencionadas? A primeira parte dessa abordagem então é formar uma boa história a respeito disso e tentar encontrar outras causas possíveis. Se for ansiedade, é preciso tratá-la, assim como se for apneia do sono e outras causas mais. O ideal é ter uma avaliação formal da memória e de outras funções cerebrais. Há ainda a avaliação neuropsicológica. É quando são testadas a atenção, a memória, a linguagem e a capacidade de percepção visual. Dá-se um valor para isso e é comparado o desempenho da pessoa, com base na idade e na escolaridade. Se acreditarmos que a pessoa tem um desempenho objetivo de memória abaixo do esperado, a investigação ainda pode prosseguir, com exames de imagem cerebral e outros.
Portal Unicamp - Quais os primeiros indícios do esquecimento?Balthazar - Algumas características clínicas mais comuns são o fato da pessoa ter dificuldade em se manter atualizada e ser repetitiva. Esquecimento benigno quase todos temos. A frequência com que o esquecimento ocorre é que é preocupante. Se o esquecimento começa a ser consistente e diário, são sinais de alerta para uma possível doença cerebral. Todavia, algumas características também envolvendo dificuldade de orientação no tempo, sobretudo confundir "mês e ano", indica a chance de serem mais relacionados à doença cerebral do que confundir o "dia", por exemplo, sobretudo quando se pergunta de supetão. Pode ser que alguém realmente não se lembre. Contudo, repetitividade é uma das coisas principais para a evolução da patologia.
Portal Unicamp - E, quanto ao uso do computador e das novas tecnologias, eles exigem menos das pessoas para memorizar?Balthazar - Eu pessoalmente penso que não. Vejo mais como um auxílio, até porque, para saber lidar com o computador - ligá-lo, saber usar o teclado, o que fazer em cada etapa -, é preciso compreender funções cognitivas complexas. Essa questão talvez se refira mais ao fato de usar a tecnologia como muleta, como um caderninho de anotações. Temos tantas coisas para fazer ao mesmo tempo que eu acho que essas inovações tecnológicas só vêm a contribuir.É claro que com a devida parcimônia.
Portal Unicamp - No atendimento que se presta no HC, por outro lado, vocês se deparam com aquela pessoa que tem 'memória de elefante'?
Balthazar - Esses casos não acabam chegando no médico muitas vezes. Mas existem alguns relatos na literatura falando sobre esse tópico que se chama hipermnésia. Ele é comum em algumas situações, em alguns subtipos de autistas principalmente, como no filme Rain man, em que eles têm uma capacidade mnésica muito grande, específica para algumas coisas em detrimento de outras. Memória visual é uma delas. Para alguns casos, eles têm essa 'memória de elefante' ou hipermnésia. Também há o quadro de pessoas que são acima do normal. É raro. Seria uma memória espetacular para detalhes. Tem gente que vê uma figura com cinco anos de idade e consegue reproduzi-la fielmente aos 15. As causas disso não são muito bem conhecidas, mas nesse caso faz parte de processo patológico.
Portal Unicamp - Há como prevenir a falta de memória?Balthazar - Pensando em termos da doença cerebral mais prevalente, que é a doença de Alzheimer, tem como diminuir as chances disso vir a acontecer. O segredinho é: tenha UMA VIDA SAUDÁVEL. Na verdade, entendo vida saudável como uma vida mental ativa, uma vida profissional com objetivos, uma vida pessoal também com objetivos e em que haja interesse em se manter atualizado, em que a pessoa tenha boa escolaridade, que tenha boas leituras e tenha desafios constantes. A solidão normalmente prejudica, a priori os idosos. Além da parte mental, já foi demonstrado ainda que atividade física aeróbica reduz risco de desenvolver doença de memória como a doença de Alzheimer. A alimentação também. Mas essa doença ainda não tem cura e tende a progredir, fazendo com que a pessoa perca a sua independência, qualidade que tanto prezamos. Nesse sentido é muito grave.
Portal Unicamp - Como ela é tratada atualmente?Balthazar - Há diversas abordagens. Uma vez feito o diagnóstico, há medicações para doença de Alzheimer. Essa medicação, no entanto, não serve para quem tem queixa de memória e que não desenvolveu a doença. Ela só pode ser usada para a doença em si, mesmo na fase leve.
Portal Unicamp - Quais são as classes de medicamentos mais usadas?
Balthazar - A classe mais específica é anticolinesterásica. São três drogas mais empregadas e que são liberadas pela Farmácia de Alto Custo do HC: donepezil, galantamina e rivastigmina. Uma quarta droga, adotada na fase moderada a avançada, que é a memantina.
Portal Unicamp - O que essas drogas promovem?
Balthazar - Essas medicações não agem na causa do problema. O que foi mostrado é que grupos de pessoas que usam essas medicações pioram mais lentamente do que grupos que não usam. O uso dessas drogas ajudam a melhorar comportamentos. São indicadas para todas as pessoas, mas alguns pacientes respondem melhor que os outros, trazendo uma certa estabilização do quadro.
Portal Unicamp - Como melhorar a memória?Balthazar - Manter uma vida mentalmente ativa, com relações sociais preservadas, com interesses mantidos. Todavia, é preciso saber dosar isso. Agora, realizar muitas atividades ao mesmo tempo acaba prejudicando.
Portal Unicamp - Tem algum exercício que ajuda a ativar a memória?Balthazar - Não gosto de indicar que as pessoas façam exercícios que nada tenham a ver com a prática dos nossos pacientes, como muitos orientam. Prefiro falar para os pacientes manterem as atividades da vida real. Ou seja, para idosos, que a família prefere que não façam mais nada e fiquem em casa, eu aconselho continuar com algumas atividades. Esse idoso deve ir com o familiar ao mercado, fazer comida, deixar escolher os produtos do mercado, deixar ver o quanto custam, decidir pelo preço, conhecer sobre a vida financeira da família e saber o quanto têm no banco. É necessário ter uma postura crítica para coisas que são relevantes no mundo real.
Portal Unicamp - Memória não quer dizer inteligência, não é?Balthazar - A pessoa pode se manter lúcida e com capacidade de julgar muita coisa, porém amnésica (esquecida). Isso não tem a ver com inteligência necessariamente. Pode ser uma pessoa brilhante, mas que começa a apresentar uma doença do esquecimento, mesmo se mantendo brilhante e lúcida por muito tempo, com a linguagem preservada por muito tempo e a capacidade espacial preservada por muito tempo. Entretanto, prosseguem tendo esquecimento.
Portal Unicamp - O que pretende avaliar ainda?Balthazar - Agora realizaremos uma nova investigação que pretende acompanhar pacientes no HC ao longo de dois anos com avaliações semestrais, de preferência de pessoas que tenham problema objetivo de memória. Estão sendo selecionadas pessoas com idade acima de 50 anos. Elas serão seguidas com uma série de exames novos, que são os biomarcadores: ressonância magnética com seis tipos de análise, avaliação neuropsicológica (testes de memória, linguagem e orientação), exame de líquor (em que se dosa proteína específica da doença de Alzheimer) e sangue que será guardado para fazer a parte genética, testando, no futuro, quatro genes. Os interessados em participar da pesquisa devem enviar um e-mail para o neurologista Balthazar.
Portal Unicamp - Para encerrar, o esquecimento é benéfico?Balthazar - Tem um poema do Bertolt Brecht intitulado "Elogio do esquecimento" (leia a seguir). A ideia que passa é que esquecer faz parte também. Se não esquecemos algumas coisas, a gente não cresce também.
ELOGIO DO ESQUECIMENTO
Bom é o esquecimento,
Senão como se afastaria o filho
da mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros
e o impede de experimentá-la.
Ou como deixaria o aluno
o professor que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
o aluno tem de se pôr a caminho.
Para a velha casa,
mudam-se os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá vivessem,
a casa seria pequena demais.
O forno esquenta. Já não se sabe
quem foi o oleiro. O plantador
não reconhece o pão.
Como se levantaria pela manhã o homem
sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
aquele derrubado seis vezes
para lavrar o chão pedregoso, voar
o céu perigoso?
A fraqueza da memória
dá força ao homem.