quarta-feira, 3 de março de 2010

TRANSFORMAÇÃO

Algumas vezes eu sinto que a minha vida é constituída por uma série de trapézios que balançam lentamente. Ora eu estou pendurado em uma barra de trapézio balançando-me ou, por tênues momentos, me sinto cruzando os espaços vazios entre esses trapézios.
Na maioria do tempo, passo a minha vida sentado no conforto do meu trapézio querido do momento. Ele me conduz durante o seu pequeno balanço, ora para frente, ora para trás.
Acredito, dessa forma, que controlo a minha vida. Assim, creio conhecer a grande maioria das perguntas certas, bem como algumas das respostas que eu julgo certas.
Porém, apenas por um instante, eu me sinto feliz balançando-me... Então eu olho à minha frente e o que consigo ver? Vejo outra barra solitária de um trapézio balançando em minha direção. Ela está vazia. E, dentro de mim, há um lugar que sabe que aquela é uma nova barra de trapézio da minha vida...
Ela representa o meu próximo passo, o meu crescimento interior, um novo sentido da minha vida, um novo desafio a enfrentar. E, no mais profundo do meu coração, eu sei que para o meu crescimento, preciso dar o novo salto desta barra que conheço e gosto tanto e que nela me balanço há tanto tempo, para uma nova barra que representa um novo começo.
Cada vez que isso me acontece, eu desejo no fundo do meu coração, que não precise aparecer outra barra à minha frente.
Todavia, nesse meu lugar, acomodado e conhecido, eu sei que preciso dar o meu próximo salto e no tênue momento desse salto, enquanto cruzo o espaço e me jogo em direção à minha nova barra, sinto-me quase paralisado pelo terror.
Tenho medo de não conseguir pegar a outra barra e de cair e me espatifar nas pedras do abismo da vida. Todavia, internamente, sei que consigo fazê-lo, que vou e preciso fazê-lo.
Talvez, isso seja a essência daquilo que os místicos chamam de experiência da fé. Não há garantias, não existem redes de proteção, não existe segurança policial. Mas, eu faço porque se continuo pendurado me balançando na velha barra, sei que não conseguirei, simplesmente, dar continuidade à minha jornada da vida.
E, por um tempo que pode durar alguns segundos ou a eternidade de uma vida, eu me vejo cruzando o vazio desconhecido de um tempo que passou e de um futuro que ainda não está aqui.
Isto representa o que podemos chamar de transformação.
Eu chego a acreditar que é esse o único lugar no qual a mudança real acontece. Sei que na nossa cultura, essa zona de transição é algo que não existe, ou seja, teoricamente não é possível existir nenhum lugar entre o vazio dos lugares.
No entanto, com certeza, a velha barra de trapézio é real, e o novo que está vindo em minha direção também é real.
Mas o que significa o vazio existente no meio?
É, justamente, a confusão, o medo, a desorientação, que precisam ser afastados o mais rápido possível.
Eu tenho uma grande suspeita de que a zona de transição é somente a única coisa real, e as barras são apenas ilusões que sonhamos existir para que preencham nossos vazios, onde a mudança - o real crescimento interior - acontece conosco.
Queira ou não o meu sentimento é verdadeiro, e é ele que me favorece com a certeza de que as zonas de transição são lugares inexplicavelmente ricos.
Sim, mesmo com todo medo, pavor e sentimentos incontrolados que geralmente acompanham as transições, são justamente esses momentos que fazem com que nos sintamos vivos, apaixonados e com as nossas vidas em expansão.
E assim sendo, a transformação do medo pode não ter nada a ver com fazer esse medo ir embora, mas apenas dar permissão a nós mesmos de nos jogarmos na zona de transição entre os dois trapézios.
No entanto, se optarmos pelo caminho de modificar os nossos desejos para não sentirmos a necessidade de pular para a outra barra, nós estaremos permitindo, a nós mesmos, esconder das nossas vidas o único lugar no qual as mudanças realmente acontecem.
E... é somente tendo a coragem e a ousadia de nos jogarmos no vazio que poderemos, realmente, aprender a voar."
(Texto, adaptado de "The Essense Book of Days" de Danaan Perry, foi apresentado por Sebastião Fernando Viana, da E&P-SEAL, na palestra "Criatividade não é dom, é vida" proferida no Fórum Nacional de Gestão)

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