quarta-feira, 31 de março de 2010

Algas contra obesidade


Divulgação Científica - 31/3/2010 - Agência FAPESP
Algas marinhas podem se tornar uma importante alternativa contra a epidemia de obesidade. A conclusão é de uma pesquisa feita no Reino Unido e apresentada na reunião da American Chemical Society, em São Francisco, na semana passada.
O estudo verificou que as algas têm potencial de reduzir a quantidade de gordura pelo organismo em cerca de 75%. Os pesquisadores, da Universidade de Newcastle, adicionaram fibras obtidas das algas em pães, de modo a desenvolver alimentos que ajudem a perder peso ao serem consumidos.
O grupo liderado por Iain Brownlee e Jeff Pearson observou que o alginato, a fibra natural encontrada nas algas, diminui a absorção de gordura pelo organismo de modo muito mais eficiente do que a maioria dos tratamentos atuais contra obesidade.
Com o uso de um sistema digestivo artificial, os cientistas testaram a eficácia de mais de 60 tipos de fibras naturais ao medir a quantidade de gordura que era digerida e absorvida em cada caso. As algas apresentaram o melhor resultado.
Alginatos são comumente usados como espessantes ou estabilizantes em alguns tipos de alimentos. Segundo os pesquisadores, quando adicionados à massa de pães em testes cegos, os produtos resultantes foram considerados melhores do que o pão branco comum com relação à textura e gosto.
“Obesidade é um problema que não para de crescer e muitas pessoas acham difícil seguir uma dieta ou um programa de exercícios físicos com o objetivo de perder peso”, disse Brownlee.
“Os alginatos têm um grande potencial para o uso no controle de peso e, quando adicionados aos alimentos, oferecem a vantagem adicional de ampliar a quantidade de fibra”, apontou.
A próxima etapa da pesquisa será verificar, por meio de experimentos com voluntários, se os resultados observados no laboratório podem ser reproduzidos em circustâncias normais.
“Verificamos que o alginato reduz significativamente a digestão de gorduras. Isso sugere que, se pudermos adicionar essa fibra natural a produtos ingeridos diariamente – como pão, biscoitos ou iogurte –, até três quartos da gordura contida nessa refeição podem simplesmente passar pelo corpo sem serem absorvidos”, disse Brownlee.
A pesquisa é parte de um projeto de três anos financiado pelo Biotechnology and Biological Sciences Research Council, do Reino Unido.

Exercícios e envelhecimento


Especiais - 12/3/2010 - Por Fábio Reynol -Agência FAPESP
O tecido adiposo não é visto por especialistas apenas como um simples reservatório energético, mas também como um órgão endócrino, uma vez que secreta um número elevado de substâncias metabolicamente importantes.
Um novo estudo concluiu que a prática de exercícios físicos, mesmo que moderada, pode não só melhorar a composição corporal no processo de envelhecimento como também modular a ação endócrina do tecido adiposo.
Coordenado pela professora Cristina das Neves Borges Silva, na Universidade Cruzeiro do Sul, a pesquisa acompanhou 54 mulheres na capital paulista, entre janeiro de 2009 e janeiro de 2010. O trabalho teve apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
As voluntárias foram divididas em quatro grupos. Um com mulheres na faixa de 20 anos de idade e outro na faixa de pouco mais de 50 anos, todas sedentárias. Os outros dois grupos também eram formados por mulheres jovens e de meia-idade de faixas etárias similares, só que todas praticantes de atividades físicas de baixa intensidade.
Por meio das diferenças em idade, a pesquisadora buscou avaliar os efeitos do tempo sobre o corpo. Ela destaca que o envelhecimento resulta em uma série de alterações hormonais, além de um aumento no volume do tecido adiposo e nas concentrações de substâncias como as citocinas, consideradas pró-inflamatórias, por mediarem processos de inflamação no organismo.
“Em idosos, as inflamações são causadoras de diversas patologias crônicas”, disse Cristina à Agência FAPESP. Por esse motivo, a atividade endócrina do tecido adiposo tem relação com a qualidade de vida dos indivíduos idosos.
No estudo, exames de sangue periódicos indicaram quais substâncias tinham concentrações alteradas pelo envelhecimento ou por exercícios físicos e quais se mantiveram independentes da influência desses fatores.
O grupo de meia-idade com treinamento físico apresentou redução no colesterol, enquanto o grupo sedentário de idade equivalente sofreu aumento na taxa de glicose.
A leptina, relacionada ao controle da massa corpórea, também foi encontrada em quantidades menores nos grupos que se exercitavam. “Quanto maior a massa corpórea, maior a concentração desse hormônio”, disse Cristina. Mais de 95% dessa substância encontra-se no tecido adiposo.
Sedentarismo e glicose
Além dos exames de sangue, o grupo de pesquisa colheu outros indicadores de saúde, como medições das circunferências de quadril, cintura e abdômen, além do índice de massa corporal (IMC) e da massa corporal gorda (MCG).
Para as mulheres mais velhas, os impactos da falta de exercício foram mais visíveis. O grupo apresentou aumentos de IMC, de MCG e das três medidas de circunferência.
Por outro lado, o grupo de mulheres de mesma faixa etária que se exercitou durante a pesquisa apresentou redução desses mesmos índices. “Foi interessante notar essas mudanças mesmo quando a atividade física se restringiu a apenas duas horas por semana”, afirmou Cristina.
O trabalho também identificou substâncias que não sofreram alterações motivadas pela idade nem pelos exercícios físicos. É o caso da adiponectina, que entre outras funções é responsável pela regulação da glicemia. O fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), um dos principais mediadores da inflamação da pele e das mucosas, e a interleucina-6 (IL-6), que possui um importante papel na regulação no sistema imunológico, também não se alteraram.
“A pesquisa concluiu que o treinamento regular de baixa intensidade tem um papel regulatório importante sobre o metabolismo energético e sobre alguns marcadores inflamatórios e metabólicos”, disse Cristina. O que colocaria a atividade física como um importante fator de influência sobre a saúde dos idosos, especialmente em relação às patologias e problemas ocasionados pelas secreções hormonais.
Segundo a pesquisadora, os resultados da pesquisa se juntam aos de trabalhos anteriores que verificaram outros benefícios da atividade esportiva no envelhecimento, como a diminuição da mortalidade em geral, a redução da massa corporal por promover um balanço energético negativo, a melhora da composição corporal, a utilização de glicose e do perfil lipídico, o aumento da capacidade aeróbia e a diminuição da resistência vascular.

Dependência pesada


Divulgação Científica - 29/3/2010 - Agência FAPESP
O mecanismo molecular que leva indivíduos ao vício em drogas é o mesmo que está por trás da compulsão pela comida, de acordo com um novo estudo realizado por cientistas norte-americanos.
Os resultados fornecem uma explicação científica para algo que é verificado na prática por pacientes obesos há muito tempo: assim como ocorre com a dependência em outras substâncias, largar o vício por comida não saudável é algo extremamente difícil.
A pesquisa, coordenada por Paul Kenny do Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida (Estados Unidos), foi publicada no último domingo (28/3) na edição on-line da revista Nature Neuroscience e em breve será veiculada na versão impressa.
Os resultados do estudo já haviam sido divulgados de forma preliminar em uma reunião da Sociedade de Neurociências, em Chicago, em outubro de 2009. Mas o artigo vai mais longe, demonstrando pela primeira vez com clareza, em modelos animais, que o desenvolvimento da obesidade coincide com a deterioração progressiva do equilíbrio químico em circuitos de recompensa do cérebro.
Conforme esses centros de prazer do cérebro se tornavam cada vez menos sensíveis, os ratos utilizados no experimento desenvolviam rapidamente o hábito de comer compulsivamente, consumindo quantidades maiores de alimentos com altos teores de calorias e gordura, até se tornarem obesos.
As mesmas mudanças ocorreram nos cérebros dos ratos que consumiram grande quantidade de cocaína ou heroína. Os cientistas acreditam que esse mecanismo tem um papel importante no desenvolvimento do uso compulsivo de drogas.
De acordo com Kenny, o estudo, que levou três anos para ser concluído, confirma as propriedades “viciantes” da comida junk – alimentos não saudáveis com muitas calorias e muita gordura.
“Ao contrário do resumo divulgado de forma preliminar, esse novo estudo explica o que ocorre no cérebro desses animais quando eles têm acesso fácil a altos teores de calorias e gordura. A pesquisa apresentou as evidências mais completas e convincentes de que a dependência de drogas e a obesidade têm base nos mesmos mecanismos neurobiológicos subjacentes”, afirmou Kenny.
Segundo ele, os animais continuaram a comer compulsivamente, mesmo quando recebiam choques elétricos. “Isso mostra como eles estavam motivados a consumir o alimento saboroso”, disse.
Os pesquisadores alimentaram os ratos com uma dieta modelada a partir do típico cardápio que contribui para a obesidade humana – com calorias de fácil obtenção e alta gordura –, como salsichas, bacon e cheese-cake. Logo após o início dos experimentos, os animais começaram a comer em grande quantidade.
“Eles procuraram sistematicamente o pior tipo de comida. O resultado é que eles ingeriram o dobro das calorias dos ratos do grupo de controle. Quando removemos a comida junk e tentamos colocá-los em uma dieta mais balanceada, eles simplesmente se recusavam a comer”, disse Kenny.
A modificação na preferência dos ratos em relação à dieta foi tão grande que os animais passaram fome por duas semanas depois que a comida junk foi cortada. Os animais que apresentaram um colapso nos circuitos cerebrais de recompensa foram justamente aqueles que mudaram a dieta mais profundamente, buscando a comida mais saborosa e menos saudável.
“Esses mesmos ratos também foram os que se mantiveram comendo, mesmo quando levavam choques elétricos”, disse o cientista. De acordo com Kenny, o mecanismo do vício é bastante simples. As vias de recompensa no cérebro foram tão superestimuladas que o sistema basicamente começa a ser “ligado” espontaneamente, adaptando-se à nova realidade do vício – seja ele a cocaína ou o bolo de chocolate.
“O corpo se adapta notavelmente bem à mudança. E esse é o problema. Quando o animal superestimula os centros de prazer de seu cérebro com comida altamente saborosa, os sistemas se adaptam a isso, diminuindo sua atividade. No entanto, nesse momento o animal requer constante estimulação pela comida saborosa a fim de evitar a entrada em um estado persistente de recompensa negativa”, explicou.
Depois de mostrar que os ratos obesos tinham, em relação à comida, um comportamento claramente semelhante ao do vício em drogas, Kenny e sua equipe investigaram o mecanismo molecular subjacente que explica a modificação. Eles se concentraram em um receptor específico no cérebro, conhecido por ter um importante papel na vulnerabilidade à dependência química e à obesidade – o receptor de dopamina D2.
Esse receptor responde à dopamina, um neurotransmissor que é liberado no cérebro por experiências de prazer, como comida, sexo ou drogas como a cocaína. No caso do abuso de cocaína, por exemplo, a droga altera o fluxo de dopamina bloqueando sua recuperação, inundando o cérebro e superestimulando os receptores. Isso leva eventualmente a mudanças físicas na maneira como o cérebro responde à droga.
O estudo mostra que o mesmo processo ocorre quando o indivíduo está viciado em comida junk. “Essa descoberta confirma o que muita gente suspeitava: o consumo exagerado de comida muito saborosa é um gatilho para uma resposta neuroadaptativa, semelhante ao vício, nos circuitos de recompensa do cérebro. Isso leva ao desenvolvimento de uma obesidade e à dependência de drogas”, afirmou.
O artigo Dopamine D2 receptors in addiction-like reward dysfunction and compulsive eating in obese rats (doi:10.1038/nn.2519), de Paul Johnson e Paul Kenny e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Neuroscience em www.nature.com/neuro.

terça-feira, 30 de março de 2010

Saúde temporal

Agência FAPESP - Especiais 29/3/2010 - Por Alex Sander Alcântara


As variações do tempo que acarretam mudanças bruscas de temperatura têm despertado o interesse dos cientistas para os efeitos que provocam na saúde humana. A imagem mais visível do problema se reflete no aumento da procura de ambulatórios hospitalares e postos de saúde nesses períodos.
Os efeitos do clima e do tempo sobre a saúde humana têm sido identificados como fatores de alto risco, que contribuem para o aumento da ocorrência de doenças crônicas e transmissíveis, de forma direta e indireta e que potencialmente aumentam a prevalência de algumas enfermidades.
Esses efeitos foram discutidos na conferência “Elementos de biometeorologia humana e saúde”, ministrada por Luís Bartolomé Lecha Estela, do Centro de Estudos e Serviços Ambientais (Cesam) da Universidade Central "Maria Abreu" de Las Villas (UCLV), em Cuba. O evento foi organizado pelo Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e realizado no dia 22 de março, na sede do instituto.
Lecha e colegas desenvolveram uma metodologia de classificação biometeorológica com o objetivo de avaliar os efeitos do tempo na saúde humana. Os métodos buscam avaliar as condições peculiares do clima tropical cubano e da adaptação da população às condições meteorológicas locais.
“Os prognósticos que desenvolvemos em Cuba estão direcionados aos médicos das instituições de saúde e auxiliam na prevenção de doenças com alta incidência, como asma, problemas cardiovasculares, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial, cefaleias, hepatite, meningite, dengue e malária”, disse Lecha à Agência FAPESP . Os resultados preliminares do estudo foram publicados na Revista Cubana de Salud Pública.
O pesquisador esteve no Brasil para ministrar um curso na Faculdade de Saúde Pública da USP e divulgar o método que desenvolve em Cuba há mais de 20 anos. A vinda de Lecha teve apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Pesquisador Visitante
“A cidade de São Paulo é um laboratório importante para se estudar essa relação. Pretendemos criar um programa a partir dos métodos desenvolvidos por Lecha”, disse Helena Ribeiro, diretora da Faculdade de Saúde Pública da USP.
“O método avisa com até 180 horas de antecedência a ocorrência de condições favoráveis para o desencadeamento de crises de saúde e utiliza como principal indicador a variação em 24 horas da densidade parcial de oxigênio no ar, o tipo de situação predominante e a ocorrência de efeitos locais de contaminação atmosférica”, explicou a professora Helena.
Lecha apresentou os resultados do método biometeorológico, que foi aplicado como projeto piloto no município de Sagua La Grande, província de Villa Clara. Os dados analisados referem-se ao período do inverno cubano, entre dezembro, janeiro e fevereiro de 2006 a 2007.
A partir de um site (http://pronbiomet.villaclara.cu), são gerados mapas detalhados em que se analisam a densidade de oxigênio, temperatura, umidade e pressão atmosférica. “Repassamos a informação à rede virtual do Ministério da Saúde e, por intranet, essa informação é transmitida aos principais postos e hospitais do município”, explicou Lecha.
Dados ambulatoriais
De acordo com o pesquisador cubano, o índice de acertos tem sido, em geral, superior a 80%. Entre 1º de dezembro de 2006 e 30 de abril de 2007 foram detectados pelo modelo cerca de 63 situações complexas de tempo com avisos de alerta, sendo 24 para hiperoxia (alta concentração de oxigênio) e 39 para condições de hipoxia (baixo teor de oxigênio).
A baixa densidade do ar em Cuba provoca crises asmáticas mais intensas nos meses de inverno e estão associadas à densidade do oxigênio no ar. “Mas foi possível identificar que nos dias em que havia condições de hipoxia houve uma prevalência de crises massivas associadas à hipertensão arterial, cefaleias e de acidente vascular cerebral, por exemplo”, disse Lecha.
Segundo ele, o método ainda apresenta algumas limitações. “O problema são os falsos alarmes, que giraram em torno de 8%, e as alterações de tempo que não foram detectadas pelo sistema. Estamos aprimorando o sistema para reduzir os erros”, disse.
Segundo o pesquisador cubano, uma das grandes dificuldades enfrentadas é a obtenção dos dados ambulatoriais. “A comunicação com os médicos é a tarefa mais difícil. Temos que investir recursos próprios para pagar e treinar uma pessoa que possa ir todos os dias aos postos para analisar as ocorrências diárias”, contou.
Durante os debates, também foram discutidos os efeitos da poluição na saúde. “A poluição tem um peso, mas esse tem sido mais sutil, porque tem havido um esforço para controlar. Já os fatores meteorológicos estão sendo cada vez mais amplificados”, disse Fábio Gonçalves, professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP e um dos debatedores do encontro.
Helena Ribeiro, que orienta pesquisas relacionadas à saúde urbana e mudanças climáticas, falou da dificuldade no Brasil de se conseguir dados estatísticos de pronto atendimento nos ambulatórios, além das poucas pesquisas nessa área. “A ligação entre alterações climáticas e saúde ainda é incipiente no país. A maioria dos projetos aborda as mudanças climáticas em larga escala”, afirmou.
Lecha destacou ainda a aplicação no turismo. “O modelo pode ajudar Cuba, que recebe muitos turistas, a se planejar em relação às alterações do tempo. O perfil dos turistas incluiu muitas pessoas acima de 60 anos. Além de riscos de tromboses durante os voos, há riscos à saúde devido às mudanças atmosféricas”, salientou.
Segundo ele, o método é interdisciplinar e envolve parceria entre diferentes faculdades das áreas médicas e meteorológicas. “É um trabalho que envolve aplicação de especialista de outras áreas. O médico precisará saber ler as imagens e decodificá-las de forma correta. Isso leva tempo”, disse.
Para ler o artigo Pronósticos biometeorológicos: vía para reducir la ocurrencia de crisis de salud. Caso Sagua La Grande, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP).

terça-feira, 23 de março de 2010

CHEGA O MEU OUTONO (Luciana)

Chega o outono, a paisagem terrestre muda...
As flores já foram, o calor fica na lembrança e as folhas começam ser vistas secas pelo chão a fora...
Os casacos são tirados da gaveta, a lavanderia recebe mais edredons e mantas para lavagem, e o guarda chuva as vezes esquecido em algum lugar visitado.
Penso que nosso EU também recicle como a natureza...
Não percebo as idas e vindas da vida interna que me acomete, talvez pela falta de tempo que dedido a mim...
As células pedem mais água, o estômago pede que se evite o gelado, a nuca não quer o vento nos cabelos molhados, os pés desejam ser aconchegados a uma meia ou um sapato que os proteja da temperatura, o estômago espera pratos apetitosos (maioria com uma ligeira fumacinha...), os pulmões começam entender a mudança do tempo e pede maior ajuda ao nariz (ao aquecer o ar), o cérebro tem que trabalhar mais na liberação de neurotransmissores para evitar a depressão, e o coração pede calma às emoções. Apenas o sangue continua seu trabalho de abastecimento e reposição...(já que é trocado a cada 90 dias, aprendeu: ir e vir, ganhar e perder).
Olho o outono da Natureza e reflito na semelhança com o meu outono da Vida. São semelhantes: percebo e agardeço o que ganhei no verão (novos amores, paqueras, amizades, famosos "bicos de trabalhos"), e percebo que começo despedir (mesmo sem querer) de algo interno que ainda me pesa (ideais mal formulados, objetivos inatingíveis, pessoas indiferentes, empregos mau sucedidos, construções inacabadas, palavras que nunca foram ditas e sentimentos que não foram vividos...).
Vem a ligeira sensação de vazio...
Olho para o chão e vejo quanta coisa retida no âmago do meu ser! Quantas ilusões, quantas decepções, quantas coisas bem vividas...
Agora todas estão no chão da vida, mostradas para mim!
Estou em pé, olhando aquilo tudo no chão e percebo: o que vou reter na alma, serão apenas as lembranças de tudo aquilo que vivi e também o que desejei e não vivi.
A cabeça pende para o chão, as lágrimas visitam meus olhos; o coração parece ficar tão apertado que o sangue pede socorro para passar, enquanto meus pulmões parecem reter em mim o melhor e o pior de tudo aquilo até que o novo ar entre; não sinto os pés e mais nada...
O tempo passa sem que eu perceba (1 minuto? 1 eternidade?) e entendo que é hora de olhar para cima...
Lembro-me das aulas de Yoga e faço uma inspiração profunda e lenta, tento reter em mim a energia que me falta, e lentamente vou expirando o ar das minhas profundezas, faço ligeira apnéia e inspiro novamente...
Inicio então o trabalho de olhar para cima... Sinto que o corpo ainda não acompanha bem esse desejo, o hábito de olhar para baixo vicia o corpo. Dou tempo a mim mesma, e me entrego ao novo ar. Percebo que ainda tenho muito o que despedir, mas haverá nova estação lá na frente pra isso, e que posso desfrutar de paisagens novas agora.
Olho pra o céu e agradeço a Deus as lembranças que serão transportadas vidas à fora, porque me mostram o quanto cresci com todas elas!!!
Abro um livro para me abastecer (Filho de Deus, Joanna de Ângelis/ Divaldo Pereira Franco) e leio a seguinte mensagem:
"DEUS SEMPRE
Por mais terrível se te apresente a situação, segue adiante, sem desfalecimento.
O desânimo é inimigo sutil que inutiliza os mais belos empreendimentos da vida.
Se os amigos te abandonaram ante os insucessos econômicos ou afetivos que te chegaram; se os parentes e afetos resolveram afastar-se por motivos que desconheces; se tudo te empurra ao limite estreito da solidão, recompõe-te intimamente e espera.
É provável que te sintas a sós, e que, aparentemente, estejas sem companhia.
Isto, porém, não é uma realidade espiritual, mas o reflexo do momentâneo estado de alma que te assalta.
Nunca estás sozinho.
Fazendo parte integrante da Criação, ela está em ti, quanto nela te encontras.
No lugar onde estejas Deus está contigo: no lar, no trabalho, no espairecimento, no repouso, na doença, na saúde, nEle haurindo consolo e forças para prosseguires nos misteres a que te vinculas.
Somente te sentirás a sós, se deixares de preservar o vínculo consciente com o Seu amor.
Mesmo assim, Ele permanecerá contigo.
Estás unido a toda a Humanidade.
Vão-se umas pessoas.
Outras chegam.
Não te amargures com as que partem.
Não te entusiasmes com as que chegam.
As criaturas passam como veículos vivos: têm um destino e não as podes deter.
Compreendendo esse impositivo, faze-te o amigo e irmão de quem te encontres no caminho, não o retendo ao teu lado, nem te fixando no dele.
Ajuda-o e segue.
Só Deus, porém, é sempre o constante companheiro.
Por isso nunca te permitas sentir solidão."

Até à próxima estação da Natureza e da minha Vida!
Luciana

quinta-feira, 18 de março de 2010

Coma menos, filho

Pesquisa FAPESP - Ciência - Saúde infantil -Carlos Fioravanti -Edição Impressa 169 - Março 2010

Mães nem sempre reconhecem quando suas crianças estão acima do peso

Uma avó clássica, Dona Benta, e seu netinho: prazer de nutrir a prole
O olhar das mães é poderoso. Descobre segredos, descortina o futuro, fortalece, afugenta fantasmas. Nem sempre, porém, identifica quando os filhos estão um pouco acima do peso. Em um estudo feito em Vitória, capital do Espírito Santo, com 1.282 crianças de 7 a 10 anos, apenas 10% das respectivas mães reconheceram que os filhos com sobrepeso ou obesidade estavam realmente pesando acima do normal para a altura e a idade.
Em outro estudo, essa equipe da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) verificou que 14% desse mesmo grupo de crianças apresentava pressão arterial acima do normal. “São dados preocupantes”, comenta Maria del Carmen Molina, professora da Ufes e coordenadora desses estudos. “Excesso de peso e hipertensão são dois fatores de risco para doenças cardiovasculares, a principal causa de morte na população brasileira.” Os pesquisadores esperavam que 20% das crianças estivessem com peso acima do recomendado (encontraram 23,3% com sobrepeso ou obesidade) e no máximo 10% com pressão arterial elevada.
Para avaliar esse risco futuro de enfarte ou de acidente vascular cerebral, os pesquisadores da Ufes não mediram apenas o peso, a altura e a pressão arterial de crianças de 7 a 10 anos de 29 escolas públicas e seis particulares de Vitória. Também avaliaram a alimentação, perguntando com que frequência consumiam frutas, sucos, legumes, leite, feijão, doces, salgadinhos, refrigerante, batata e maionese, e se tinham o hábito de fazer a primeira refeição do dia, o café da manhã. O que viram é que a garotada não está se alimentando tão bem quando as mães imaginavam. Viram também que o lazer, principalmente o sedentário, é intenso, com pelo menos três horas em frente à televisão ou no video­game, raramente saindo para brincar de pega-pega, jogar bola ou andar de bicicleta.
Examinando essas quatro variáveis (excesso de peso, hipertensão, alimentação de baixa qualidade e quatro horas ou mais de lazer sedentário diário), os pesquisadores verificaram que 20% das crianças apresentavam três fatores de risco para doenças cardiovasculares, 34% tinham dois fatores, 27% apenas um fator de risco e 12% não apresentavam nenhum fator de risco, de acordo com o trabalho da equipe da Ufes, em conjunto com a Universidade Autônoma de Madri, em fase de publicação.
O estado de saúde dos filhos pode refletir o das mães. Em um levantamento com 14.914 crianças brasileiras com menos de 10 anos publicado em 1996 na Revista de Saúde Pública, Elyne Engstrom, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, e Luiz Anjos, da Escola Nacional de Saúde Pública,verificaram que crianças com sobrepeso tinham mães também com sobrepeso. Um estudo com 800 pais e mães de 439 estudantes realizado na Holanda chegou a resultados similares: 75% das mães e 77% dos pais de crianças com sobrepeso disseram que o filho ou filho estava com peso normal. Nessa pesquisa, publicada em janeiro na revista Acta Paediatrica, emergiu também uma relação direta entre o sobrepeso dos pais e o dos filhos.
Bebês prematuros - Agora o estudo em Vitória revela uma associação entre a escolaridade das mães e o risco de doença cardiovascular dos filhos: quanto mais anos de estudo das mães, melhor tende a ser a alimentação e portanto o peso, mais normal a pressão arterial e mais diversificada as atividades físicas dos filhos. “Verificamos também que a hipertensão é mais comum em crianças prematuras, que nascem antes de 37 semanas”, disse Maria del Carmen. “O desenvolvimento de doenças crônicas poderia ser uma das sequelas de nascer antes do tempo normal e com peso entre 700 gramas e 1 quilograma (kg), em vez de no mínimo 2,5 kg.”
Os resultados desses estudos não circularam apenas por meio de revistas científicas especializadas. “Mandamos carta para cada família informando que a criança tinha apresentado pressão arterial elevada e sugerimos que procurassem um posto de saúde ou um médico para confirmar o diagnóstico”, informou Maria del Carmen. “Comunicamos também à Secretaria de Saúde, cujos diretores e técnicos começaram a perceber que a hipertensão, antes considerada doença de adulto, pode ser também um problema de crianças. A primeira providência foi comprar medidores de pressão adequados para crianças e enviar aos postos de saúde.”
A responsabilidade por essa situação não é só da família – ou das mães. “Nas escolas que atendem a população de renda mais baixa”, observou Maria del Carmen, “mesmo com cardápio padronizado, as merendeiras colocam muito mais comida do que deveriam para as crianças, porque acham que precisam. Mesmo com cardápio padronizado, o valor calórico das refeições oferecidas às crianças às vezes era o dobro do que deveria ser”.
> Artigo científico
MOLINA, M.C. et al. Correspondência entre o estado nutricional de crianças e a percepção materna: um estudo populacional. Cadernos de Saúde Pública. 25(10):2.285-90. Out. 2009.

terça-feira, 16 de março de 2010

ÔMEGA x EPILEPSIA

FAPESP - Ciência - Neurologia - Tremores sob controle -Carlos Fioravanti -Edição Impressa 169 - Março 2010


Prática de exercícios físicos e consumo de ômega-3 emergem como tratamentos complementares da epilepsia

Esper Cavalheiro suava, fazendo ginástica à noite em uma academia, ao lado de um treinador que não parava de perguntar sobre o funcionamento do cérebro, dos neurônios e das pesquisas que ele coordenava na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Diante da curiosidade sem fim, gentilmente Cavalheiro convidou: “Por que não vem fazer pós-graduação comigo?”. Ricardo Arida, o perguntador, começou a pós nesse mesmo ano, 1992. De lá para cá, unindo sua formação em educação física com o que aprendeu no mestrado e no doutorado, ele fez ou acompanhou estudos em animais de laboratório e com seres humanos que agora permitem aos pesquisadores dessa área recomendar a prática de exercícios físicos regulares de média intensidade – como caminhar ou correr – para ajudar a conter a epilepsia, distúrbio neurológico caracterizado por intensas descargas elétricas no cérebro, com o qual quase 4 milhões de pessoas de todas as idades no Brasil, o equivalente a 2% da população, têm de conviver.
Os benefícios da atividade física podem ser ampliados por meio de uma segunda terapia complementar: o consumo de combinações de ácidos graxos poliinsaturados do tipo ômega-3, encontrado em nozes e peixes e adotado como suplemento alimentar para fortalecer o coração. Fúlvio Scorza, do grupo de Cavalheiro, em colaboração com colegas de outras universidades, tem mostrado que doses diárias de um a três gramas de ômega-3 podem proteger ou mesmo estimular a formação de neurônios do hipocampo, uma área do córtex cerebral associada ao aprendizado e à aquisição da memória, danificada em algumas formas de epilepsia. Em experimentos com animais e seres humanos, o ômega-3, tanto quanto os exercícios físicos, reduziu a intensidade e a frequência das crises epilépticas, as súbitas contrações musculares que representam a face mais visível da epilepsia.
Arida entrou nessa linha de trabalho em 1998. Foi quando, ainda no doutorado, ele verificou que ratos habituados a correr em uma esteira apresentavam 50% menos crises epilépticas induzidas, em comparação com os sedentários. Agora, como professor da Unifesp, ele orientou um estudo de Fabio Camilo com 17 pessoas com epilepsia e 21 saudáveis, publicado em dezembro de 2009 na revista Arquivos de Neuro­psiquiatria, mostrando que mesmo exercícios físicos intensos podem ser benéficos, ajudando a conter as crises. “A indicação de exercício físico para tratar epilepsia vai contra crenças antigas”, diz Cavalheiro, lembrando que as pessoas com epile­psia normalmente são aconselhadas a se manterem pouco ativas e reclusas, sob o risco de agravarem as crises.
A atividade física pode aplacar os efeitos sociais e psicológicos gerados pelas crises. Quem tem epilepsia tende a se isolar do convívio social, por temer que o surgimento de crises em público possa criar situações embaraçosas para quem não convive com esse problema. O isolamento, por sua vez, pode gerar depressão ou ansiedade. Há limites, porém, para a atividade física. “Quem tem epilepsia não vai fazer alpinismo, nem natação, porque uma crise poderia ser perigosa nessas situações”, alerta Arida, “mas pode participar de outras atividades esportivas e voltar a ter uma vida normal, mesmo que não possa parar com a medicação que evita o surgimento das crises”. As pessoas com epilepsia talvez recebam bem essas possibilidades. Um levantamento que ele coordenou em 2003 mostrou que as pessoas com epilepsia acreditavam que a prática de esportes poderia favorecer o tratamento. Dos 100 entrevistados (58 homens e 42 mulheres), 51 já praticavam alguma atividade física, embora não regularmente, 85 não acreditavam que praticar esportes poderia precipitar as crises, 15 haviam sido proibidos pelos médicos de fazer atividade física e 14 foram alertados por parentes e amigos para ficarem longe de pistas de corridas e quadras de esportes. “Vale a pena planejar um programa de exercícios físicos específicos para pessoas com epilepsia”, propõe Arida.
Os movimentos que fazem suar regulam a produção de neurotransmissores – os mensageiros químicos entre os neurônios – e de hormônios, desse modo reduzindo as crises epilépticas, de acordo com um estudo de Arida e outros pesquisadores da Unifesp, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) publicado em novembro de 2009 na revista Epilepsy & Behavior. Segundo Arida, um experimento recém-concluído na Unifesp indicou que o exercício físico voluntário ou forçado – além do efeito mais conhecido, o estímulo à liberação de substâncias chamadas endorfinas, que causam uma sensação de bem-estar – dobrou a quantidade e a extensão dos braços dos neurônios do hipocampo de ratos, assim facilitando a comunicação entre os neurônios.
O ômega-3 parece proteger as células nervosas por pelo menos dois outros meios. O primeiro é estimulando a produção de parvalbumina, uma proteína que age em conjunto com o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico (Gaba), que inibe a atividade elétrica dos neurônios. O segundo é ligando-se com os íons (partículas atômicas eletricamente carregadas) de cálcio. “Com a crise epiléptica, a membrana dos neurônios se torna mais permeável e deixa entrar mais cálcio iônico, que, em excesso, pode ser tóxico para as células”, comenta Scorza, um dos organizadores da 4ª Escola Latino-Americana de Verão em Epilepsia (Lasse), que reuniu cerca de 100 especialistas de 1o a 10 de fevereiro em Guarulhos, na Grande São Paulo.
Equilibrando a atividade elétrica dos neurônios, o ômega-3 deve contribuir para reduzir também a morte súbita nas epilepsias. A equipe da Unifesp investiga há anos esse tipo de morte prematura, de duas a três vezes mais comum em pessoas com epilepsia do que em quem não tem epilepsia. Uma das explicações é que o desequilíbrio elétrico dos neurônios do cérebro possa ampliar-se e desregular o funcionamento do coração. Outra possibilidade, que Scorza, Cavalheiro e outros pesquisadores da Unifesp apresentaram em janeiro na Medical Hypotheses, é que a falta de vitamina D possa contribuir para as arritmias cardíacas, a epilepsia e a morte súbita. Nesse caso, a saída é simples: basta tomar mais sol, que intensifica a produção de vitamina D pelo organismo. A vitamina D, eles sugerem, pode funcionar também para regularizar a atividade elétrica dos neurônios.
Há pelo menos cinco anos uma série de testes em pessoas tem mostrado que o ômega-3 pode reduzir os riscos de crises epilépticas e de morte súbita. Alguns trabalhos mostraram benefícios temporários, segundo Scorza, “talvez porque a dose era baixa”, de um grama de ômega-3 por dia. Doses maiores têm levado a resultados mais claros e prolongados. Marly Albuquerque, da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em conjunto com a equipe da Unifesp, coordenou um estudo em que nove pessoas com epilepsia nas quais os medicamentos habituais faziam pouco efeito tomaram uma dose de três gramas diárias de ômega-3 e mais a medicação antiepiléptica durante seis meses. Marly observou uma redução de 75% na frequência das crises – de diárias, passaram a semanais. “O que mais chamou a atenção foram os ganhos de qualidade de vida, com mais socialização”, afirmou.
Como já existe uma dezena de medicamentos eficazes contra epilepsia, aos quais se somam agora essas terapias complementares, o tratamento deixou de ser o mais difícil. “Por incrível que pareça, o mais difícil é diagnosticar a epilepsia e evitar que as pessoas tomem medicamentos errados por muitos anos”, diz Cavalheiro, coordenador-­ -geral da Lasse. A epilepsia pode escapar mesmo de especialistas porque se apresenta de muitas formas diferentes na infância, na vida adulta ou na velhice. Em bebês e crianças, pode se expressar apenas por meio de piscadas fortes dos olhos ou contrações de um a dois segundos dos músculos de uma das mãos. “Muitas vezes os médicos não conseguem diagnosticar crises em bebês por falta de equipamento e de experiência”, disse Perrine Plouin, do Hospital Saint Vincent de Paul, de Paris, em uma das apresentações do Lasse. Só a partir dos 7 anos de idade é que as crianças apresentam crises epilépticas semelhantes às dos adultos, com movimentos involuntários, rápidos e arrítmicos de braços, pernas, pescoço e ombros.
Para complicar, as crises podem resultar de estímulos variados. Em 16 de dezembro de 1997, cenas de vermelho intenso e vibrante no desenho animado Pokémon dispararam crises epilépticas em 685 crianças no Japão. Plouin contou de uma menina de menos de 1 ano que tinha crises, expressas apenas por movimentos irregulares dos olhos, ao entrar na banheira com água a uma temperatura próxima a 37º Celsius. Elza Yacubian, da Unifesp, descreveu outra forma rara de epilepsia, acionada pela leitura sob tensão, como a de textos em uma língua desconhecida, e visível apenas pela contração dos músculos da mandíbula.
As crises são raras – e a epilepsia, mais difícil de detectar – entre idosos, que geralmente vivem sozinhos ou estão sozinhos quando a crise chega. Carlos Guerreiro, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contou que os médicos podem suspeitar de epilepsia em pessoas idosas a partir do que elas próprias relatam sobre o que sentiram antes das crises, como tontura, medo, dor muscular ou suor intenso, ou depois, como perda de memória, confusão mental e dores musculares. Outra complicação é que a epilepsia, entre idosos, pode coexistir com doenças cardiovasculares, doença renal crônica, diabetes ou demência, e por vezes os medicamentos usados contra epilepsia podem reduzir o efeito, por exemplo, de anti-hipertensivos. Em razão do contínuo envelhecimento da população e da perspectiva de ampliação da expectativa de vida dos atuais 72,7 anos para mais de 80 em 2030, ele concluiu, “vamos ter cada vez mais epilepsia entre idosos”.
As origens da epilepsia também são variadas – defeitos em genes, cromossomos anormais, distúrbios metabólicos e tumores ou lesões no cérebro. “No sistema nervoso central há um jogo molecular complexo”, afirmou Marina Bentivoglio, da Universidade de Verona, Itália. Por causa da interação entre neurotransmissores, hormônios e proteínas que estimulam continuamente a proliferação, migração e diferenciação das células nervosas, “esse ambiente está mudando o tempo todo”, disse ela.
Outra possibilidade: a epilepsia, a doença de Alzheimer, a esclerose múltipla e outros distúrbios neurológicos podem resultar de inflamações nas células da glia, que envolvem os neurônios. Dez vezes mais numerosas que os neurônios, as células da glia passaram décadas sob a ideia de que serviam apenas como sustentação e coesão dos tecidos do sistema nervoso central. Agora se mostram relevantes para a transmissão de estímulos elétricos, facilitando as conexões entre os neurônios e para o combate a infecções e lesões no sistema nervoso. Hoje está claro que lesões nas células da glia podem atrapalhar o funcionamento dos neurônios ou levá-los à morte. “As glias são as células do momento”, afirmou Scorza, diante de indicações de que o exercício físico e o ômega-3 parecem ser capazes de manter as células da glia funcionando harmoniosamente.
Artigos científicos:
1. CAMILO, F. et al. Avaliação do esforço físico intenso em indivíduos com epilepsia do lobo temporal. Arquivos de Neuro­psiquiatria. 67(4), p.1.007-12. 2009. 2. SCORZA, F. A. et al. Benefits of sunlight: vitamin D deficiency might increase the risk of sudden unexpected death in epilepsy. Medical Hypotheses. 74(1), p. 158-61. 2010.

Os projetos:
1. Efeito do exercício físico na plasticidade cerebral de ratos em desenvolvimento - nº 2004/10820-62. O papel do ômega-3 no modelo de epilepsia induzido pela pilocarpina - nº 2007/00763-3 ModalidadeAuxílio Regular a Projeto de PesquisaCo­or­de­na­dores1. Ricardo Mario Arida – Unifesp2. Fúlvio Alexandre Scorza – Unifesp
ModalidadeAuxílio Regular a Projeto de Pesquisa
Co­or­de­na­dores1. Ricardo Mario Arida – Unifesp2. Fúlvio Alexandre Scorza – Unifesp

terça-feira, 9 de março de 2010

Cartilhas nutricionais

Especiais -3/3/2010 -Por Alex Sander Alcântara - Agência FAPESP
Apesar da elevada produção, no Brasil é baixo do consumo de frutas e hortaliças. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, frutas e verduras e legumes correspondem a apenas 2,3% das calorias totais ingeridas pela população, ou cerca de um terço das recomendações para o consumo diário desses alimentos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o consumo mínimo diário de 400 gramas de frutas e legumes, correspondentes a cinco porções. O cenário parece estar piorando. Um
estudo publicado em 2008 indicou que, nas últimas três décadas do século 20, houve um declínio no consumo de alimentos básicos (como cereais e derivados) e de frutas e hortaliças na cidade de São Paulo, ao passo que se verificou um aumento alarmante da participação de alimentos de baixo teor nutricional, como biscoitos e refrigerantes.
Diante desse cenário, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com outras instituições, vem desenvolvendo desde 2007 um projeto, no Rio de Janeiro, que pretende subsidiar ações em comunidades atendidas pelo Programa de Saúde na Família para promover o consumo de frutas, legumes e verduras.
Como resultado das ações – que se concentram em empresas, escolas, creches, pontos de venda de frutas e hortaliças e em famílias de bairros da zona oeste carioca (Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz) – a equipe do projeto elaborou uma série de livretos e cartilhas, disponíveis gratuitamente na internet, para incentivar o consumo de vegetais.
“Os livretos trazem recomendações nutricionais, quantidades a serem ingeridas e dicas de consumo, além de sugestões de como trabalhar o tema para estimular o aumento do consumo de frutas e hortaliças”, disse Virgínia Matta, pesquisadora da Embrapa e coordenadora do projeto, à Agência FAPESP
Já estão disponíveis no site da Embrapa (
www.ctaa.embrapa.br/index.php?id=18) os livretos 12 passos para uma alimentação saudável, Promover o consumo de frutas e verduras – estratégia de saúde da família, Promover o consumo de frutas, legumes e verduras – Programa de alimentação escolar, Promover o consumo de frutas, legumes e verduras – Escolas e creches.
O folheto 12 passos para uma alimentação saudável, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde, orienta sobre o baixo consumo de sal e gordura, a redução do consumo de açúcar, o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras e a prática de atividade física, entre outros.
Segundo Virgínia, os livretos são direcionados a agentes de saúde, professores, merendeiras e gestores das escolas e creches, podendo também vir a ser utilizado pela população em geral. Nas ações de incentivo, o grupo promoveu oficinas de culinária, higienização de alimentos, produção de hortaliças em pequenos espaços, além de palestras sobre nutrição e alimentação saudável.
“O objetivo é que os profissionais que lidam com as comunidades tenham ferramentas para continuar estimulando o consumo. O que tentamos demonstrar, com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde, é que a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre os dez principais fatores de risco que contribuem para a mortalidade em todo o mundo”, disse.
Na primeira etapa do projeto foram feitas entrevistas com uma amostra das cerca de 10 mil famílias das três comunidades envolvidas. Participaram do levantamento alunos de graduação, mestrado e doutorado de universidades públicas e privadas do Rio de Janeiro.
“Levantamos informações sobre o perfil de consumo a partir de pontos estratégicos. Queríamos saber quais os determinantes do consumo e do não-consumo naquele momento e naquela região”, explicou Vírginia.
O diagnóstico inicial dos pesquisadores apontou o preço dos alimentos como fator limitante. “Quanto consideramos comunidades mais pobres, o fator econômico pesa mais. Mas a falta de hábito e de tempo para o preparo também foi recorrente. Por isso, realizamos oficinas de culinária mostrando que é possível preparar legumes e verduras de forma mais simples”, disse.
A pesquisadora destaca que outros documentos e orientações serão divulgados durante este ano, quando o projeto será encerrado. Para finalizar, estão previstas ainda a realização de minioficinas de culinária nas escolas.
Participam do projeto a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Câncer, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a Universidade Federal Fluminense, a Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Nutrição, o Instituto Bennett, a Fundação Xuxa Meneghel, a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, o governo do Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro.
As publicações estão disponíveis em:
www.ctaa.embrapa.br/produtos/pub-download.php

quarta-feira, 3 de março de 2010

TRANSFORMAÇÃO

Algumas vezes eu sinto que a minha vida é constituída por uma série de trapézios que balançam lentamente. Ora eu estou pendurado em uma barra de trapézio balançando-me ou, por tênues momentos, me sinto cruzando os espaços vazios entre esses trapézios.
Na maioria do tempo, passo a minha vida sentado no conforto do meu trapézio querido do momento. Ele me conduz durante o seu pequeno balanço, ora para frente, ora para trás.
Acredito, dessa forma, que controlo a minha vida. Assim, creio conhecer a grande maioria das perguntas certas, bem como algumas das respostas que eu julgo certas.
Porém, apenas por um instante, eu me sinto feliz balançando-me... Então eu olho à minha frente e o que consigo ver? Vejo outra barra solitária de um trapézio balançando em minha direção. Ela está vazia. E, dentro de mim, há um lugar que sabe que aquela é uma nova barra de trapézio da minha vida...
Ela representa o meu próximo passo, o meu crescimento interior, um novo sentido da minha vida, um novo desafio a enfrentar. E, no mais profundo do meu coração, eu sei que para o meu crescimento, preciso dar o novo salto desta barra que conheço e gosto tanto e que nela me balanço há tanto tempo, para uma nova barra que representa um novo começo.
Cada vez que isso me acontece, eu desejo no fundo do meu coração, que não precise aparecer outra barra à minha frente.
Todavia, nesse meu lugar, acomodado e conhecido, eu sei que preciso dar o meu próximo salto e no tênue momento desse salto, enquanto cruzo o espaço e me jogo em direção à minha nova barra, sinto-me quase paralisado pelo terror.
Tenho medo de não conseguir pegar a outra barra e de cair e me espatifar nas pedras do abismo da vida. Todavia, internamente, sei que consigo fazê-lo, que vou e preciso fazê-lo.
Talvez, isso seja a essência daquilo que os místicos chamam de experiência da fé. Não há garantias, não existem redes de proteção, não existe segurança policial. Mas, eu faço porque se continuo pendurado me balançando na velha barra, sei que não conseguirei, simplesmente, dar continuidade à minha jornada da vida.
E, por um tempo que pode durar alguns segundos ou a eternidade de uma vida, eu me vejo cruzando o vazio desconhecido de um tempo que passou e de um futuro que ainda não está aqui.
Isto representa o que podemos chamar de transformação.
Eu chego a acreditar que é esse o único lugar no qual a mudança real acontece. Sei que na nossa cultura, essa zona de transição é algo que não existe, ou seja, teoricamente não é possível existir nenhum lugar entre o vazio dos lugares.
No entanto, com certeza, a velha barra de trapézio é real, e o novo que está vindo em minha direção também é real.
Mas o que significa o vazio existente no meio?
É, justamente, a confusão, o medo, a desorientação, que precisam ser afastados o mais rápido possível.
Eu tenho uma grande suspeita de que a zona de transição é somente a única coisa real, e as barras são apenas ilusões que sonhamos existir para que preencham nossos vazios, onde a mudança - o real crescimento interior - acontece conosco.
Queira ou não o meu sentimento é verdadeiro, e é ele que me favorece com a certeza de que as zonas de transição são lugares inexplicavelmente ricos.
Sim, mesmo com todo medo, pavor e sentimentos incontrolados que geralmente acompanham as transições, são justamente esses momentos que fazem com que nos sintamos vivos, apaixonados e com as nossas vidas em expansão.
E assim sendo, a transformação do medo pode não ter nada a ver com fazer esse medo ir embora, mas apenas dar permissão a nós mesmos de nos jogarmos na zona de transição entre os dois trapézios.
No entanto, se optarmos pelo caminho de modificar os nossos desejos para não sentirmos a necessidade de pular para a outra barra, nós estaremos permitindo, a nós mesmos, esconder das nossas vidas o único lugar no qual as mudanças realmente acontecem.
E... é somente tendo a coragem e a ousadia de nos jogarmos no vazio que poderemos, realmente, aprender a voar."
(Texto, adaptado de "The Essense Book of Days" de Danaan Perry, foi apresentado por Sebastião Fernando Viana, da E&P-SEAL, na palestra "Criatividade não é dom, é vida" proferida no Fórum Nacional de Gestão)