Agência FAPESP (2/2/2009)
Uma nova pesquisa feita na Europa identificou uma relação genética entre problemas do sono e depressão. O trabalho é o primeiro a demonstrar, por meio do estudo de gêmeos, que problemas do sono em crianças e adolescentes podem ser usados para prever o desenvolvimento futuro da depressão.
Os resultados indicam que a estabilidade dos distúrbios do sono é consequência principalmente de fatores genéticos – 46% das influências genéticas no sono aos 10 anos de idade eram os mesmos que afetavam uma criança aos 8 anos.
O estudo destaca que a depressão, por outro lado, é causada principalmente por fatores ambientais não compartilhados e 19% desses fatores aos 8 anos permaneceram os mesmos verificados nas crianças quando elas tinham 10 anos.
“Havíamos identificado em estudo anterior que o fator genético era o mais importante para explicar a associação entre problemas de sono e depressão em crianças com 8 anos de idade. Entretanto, quando examinamos o assunto aos 10 anos, observamos que as influências ambientais haviam se tornado mais importantes”, disse uma das autoras da pesquisa, Alice Gregory, do Departamento de Psicologia do Goldsmiths College, em Londres.
Os cientistas decidiram realizar um estudo com gêmeos de modo a distinguir entre fatores ambientais compartilhados ou não. Os primeiros criam semelhanças entre membros de uma mesma família e podem ser estimados pelo cálculo da similaridade entre gêmeos idênticos que não seja devida a influências genéticas.
Influências ambientais não compartilhadas individualizam membros de uma família e podem ser estimados por meio do exame das associações entre gêmeos monozigóticos. Se não houver uma relação perfeita entre tais irmãos, pode ser assumido que a influência ambiental não compartilhada está presente.
Foram coletados dados de 300 pares de gêmeos nascidos na Inglaterra e no País de Gales entre 1994 e 1996. A ansiedade foi examinada aos 7 anos de idade por meio de um questionário de 21 itens submetidos aos pais. Dos pares, 247 apresentaram elevados níveis de ansiedade segundo o questionário. Também foram selecionados outros 53 pares de gêmeos para compor o grupo controle.
Problemas do sono e sintomas de depressão foram identificados por meio de outros questionários, também respondidos pelos pais, quando as crianças estavam com 8 anos. Dois anos depois, foram colhidos novos dados das crianças participantes.
Segundo os autores, embora problemas do sono na infância tenham pequena influência no desenvolvimento da depressão, trata-se de um assunto que deve ser lidado com seriedade, uma vez que pode afetar de modo negativo os aspectos sociais e educacionais dos jovens.
Os pesquisadores também ressaltam que, em comparação com outros indicadores de risco de problemas futuros, os distúrbios do sono são mais facilmente abordados e discutidos nas famílias, sem o estigma negativo que pode estar associado com problemas de saúde mental.
O artigo The direction of longitudinal associations between sleep problems and depression symptoms: A study of twins aged 8 and 10 years, de Alice Gregory e outros, pode ser lido por assinantes da Sleep em www.journalsleep.org.
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