(À Sra. e Sta. C., de Bourdéus – de C. Dombre – Dezembro de 1861/ Revue Spirite – Journal D’Etudes Psychologiques)
Em meio a uma roseira, à margem de um cercado,
Havia a toutinegra posto a sua ninhada.
Nascera bem feliz aquela petizada.
Mas um desastre, oh Deus! lhe estava reservado!
Entre os fogos do céu a tormenta rugiu
E a chuva em torrentes caiu.
Nos campos se formou vastíssimo lago
E pronto inundou-se o cercado.
Já longe da roseira o ninho se balança;
A ave, sobre as águas, o protege ansiosa;
Não leva o coração firmado na esperança;
Bem distante cintila a estrela generosa; entanto, escorre a água; e com a água da vargem
O riacho recebe o ninho balouçante
Que apesar dos escolhos semeados na margem
Atinge facilmente o leito expectante.
Pelo meio do rio, um banquinho de areia
Se eleva acima das águas;
Ajudada por zéfiro amigo, uma vaga
Para ele impeliu a barquinha tão cheia.
Tocando-lhe a horda, a pobre ave,
Ao sentir da alegria o primeiro transporte,
Caiu logo depois a tristeza grave:
Nesse lugar, qual será a sua sorte?
Seus pequeninos já pediam alimento.
Devia ela, para ir longe procurá-lo,
Ali expostos na areia abandoná-los?
Se haviam sido salvos numa vaga amiga,
Não deviam temer uma vaga inimiga
Ou o funesto efeito de um golpe de vento?
No mesmo instante, ali pousa um pombo-trocaz.
“desculpai-me, diz ela, ó meu pássaro audaz,
Apelar para vossa bondade:
Trato da salvação de toda uma família.
Oh, devolvei ao campo e à roseira tranquila estas pequenas vítimas da tempestade.
Dignai-vos abrir as asas generosas.
Não é tão longe, e as vossas garras vigorosas
Jamais levaram assim uma carga tão leve.”.
Nas se fez surdo o pombo a essa voz.
E em tom breve:
“Eu deploro o vosso infortúnio,
Mas tenho a lamentar que um caso de pecúlio,
Exigindo que eu siga do meu voo o curso,
Me prive da alegria de vos dar concurso.
Mas ficai sem inquietude
E segui o conselho que a solicitude
Me torna feliz de vos dar:
Confiai na vossa sorte... o gênio benfeitor
Que a vida vos salvou, não há de se indispor
Convosco e vos abandonar.”
E contente de si, aos ares se lançou.
Uma pequena carpa, a nadar, escutou
E tudo viu, tudo entendeu.
“Consolai-vos, disse ela, ó mãe desesperada!
Mas ainda nem tudo se perdeu.
Não disponho de forças para repartir,
Mas espero poder vos conduzir”.
E , pegando na boca um longo filamento,
Abundante na espessura do ninho,
O puxou, deslizando em seu caminho.
A toutinegra, em pé, habilmente o ajudava,
De asas abertas ao vento.
A carga se inquietou, e o peixe que puxava, para flutuar sereno a marcha equilibrava, evitando as correntes na passagem.
Já estão perto da borda... e chegaram!
A toutinegra alegre e os filhos encontraram
Farta relva e bom mato pela margem,
E o peixe então lhe diz: “No porvir, pelo menos,
Nos grandes não confiai; o clamor da miséria
Só francamente ecoa em corações em férias;
Seus dons são o conselho e a condolência.
Mas a cordial assistência
Só se encontra nos pequenos”.