Nutrociência (news@nutrociencia.com.br) 07/04/2010 , às 12h52
18,9% da população optam por cinco ou mais porções diárias desses alimentos, 2,6 vezes mais que três anos atrás. Por outro lado, preocupa o crescimento do consumo de refrigerantes, de produtos gordurosos e o aumento do sedentarismo no país
As frutas e hortaliças estão mais presentes no prato do brasileiro. Estudo inédito do Ministério da Saúde revela que 30,4% da população com mais de 18 anos optam por esses alimentos cinco ou mais vezes na semana. E 18,9% consumiram cerca de cinco porções diariamente em 2009 - 2,6 vezes mais que o registrado em 2006, 7,1%. Isso equivale as 400 gramas diárias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Contudo, o Ministério da Saúde alerta para o aumento no consumo de alimentos com alto teor de açúcar e gordura e do número de sedentários no país.
Os dados sobre o perfil da alimentação do brasileiro e o hábito de fazer atividade física integram levantamento realizado todo ano pelo Ministério da Saúde, o Vigitel. Foram entrevistadas 54.367 entre os dias 12 de janeiro e 22 de dezembro de 2009. O levantamento foi apresentado durante a comemoração do Dia Mundial de Saúde nesta quarta-feira, 7 de abril, na sede da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), em Brasília.
O ministro José Gomes Temporão participou da cerimônia e fez um alerta sobre os riscos da mudança no estilo de vida da população. "A alimentação adequada e a prática regular de exercício ajudam a prevenir doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e câncer. O Ministério tem estimulado hábitos saudáveis, espaços de convivência e para esportes nas cidades brasileiras, com repasse de verbas, e com ações de promoção da saúde nas equipes de saúde da família e por meio do Programa Saúde na Escola", destaca. HÁBITO ALIMENTAR - De acordo com uma das responsáveis pela pesquisa, Deborah Malta, os dados demonstram o impacto das mudanças no padrão alimentar do brasileiro - que acompanha tendência mundial de maior consumo de alimentos gordurosos - e, ao mesmo tempo, a preocupação de uma parcela da população em reverter esse quadro. "Tem reduzido o percentual de pessoas que almoçam em casa ou preparam sua refeição, e assim as pessoas acabam optando por alimentos mais práticos e, geralmente, mais gordurosos, como os pré-cozidos, enlatados ou mesmo os fast-foods", afirmou Deborah, que também é coordenadora-geral de Doenças e Agravos Não-transmissíveis do Ministério da Saúde. Segundo ela, a maior busca por frutas e hortaliças é o resultado de um processo de conscientização e das políticas de incentivo a hábitos saudáveis. "O desafio é ampliar o acesso a essas iniciativas", destaca.
Outro ponto positivo no hábito alimentar do brasileiro é a queda de 15,8% no consumo de carnes vermelhas gordurosas ou pele de frango. Em 2009, 33% dos adultos comiam carnes com excesso de gordura contra 39,2% em 2006. A conscientização, tanto em relação ao consumo de vegetais quanto à escolha de carnes mais leves, segundo Deborah Malta, pode ser atribuída às políticas de incentivo a alimentação saudável.
REFRIGERANTES - Contudo, os dados demonstram também que refrigerantes e sucos artificiais (aqueles em pó dissolvidos em água) participam ativamente da dieta do brasileiro. Ao todo, 76% dos adultos bebem esses produtos pelo menos uma vez na semana e 27,9%, cinco vezes ou mais na semana. O consumo regular, quase todo dia, aumentou 13,4% em um ano. Em 2008, 24,6% da população bebia refrigerantes cinco ou mais vezes na semana.
Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, o índice é ainda maior, 42,1% bebem refrigerantes quase todos os dias. Além disso, as versões light ou diet do produto não são tão requisitadas. Só 15% da população adulta optam por eles. O leite com teor integral de gordura também é o preferido: 58,4% da população consomem esse produto cinco ou mais vezes na semana. Um aumento de quase 2% em três anos. Em 2006, 57,4% da população preferiam os integrais ao invés de desnatados ou semi-desnatados.
Já o consumo de feijão, tão comum na culinária brasileira, está caindo. Esse alimento, que é rico em fibra e ferro, em 2009, fez parte do cardápio de 65,8% dos adultos cinco ou mais vezes na semana. Em 2006, o índice era 71,9%, o que representa uma queda de 8,4% em três anos. "O feijão requer tempo de preparado e pressupõe uma comida caseira. Com a mudança no estilo de vida da população, ele está saindo da rotina do brasileiro", afirma Deborah Malta. Segundo ela, para reverter o quadro, é preciso ampliar as políticas de promoção da saúde, além de esforços de outros setores do governo, como educação, agricultura e comércio.
SEDENTARISMO - As ações também devem estar integradas ao incentivo e orientação para a prática regular de exercícios físicos. "Hoje observamos um predomínio de alimentos com alto teor de gordura e açúcar na dieta do brasileirão, e isso não é compensado com aumento de atividades físicas. Pelo contrário, as pessoas estão mais sedentárias", alerta Deborah Malta.
Os dados da pesquisa confirmam essa realidade. Apenas 14,7% dos adultos fazem atividades físicas no tempo livre com a regularidade necessária - 30 minutos diários, cinco vezes por semana. Considerando aqueles que se deslocam para o trabalho ou para escola a pé ou de bicicleta, o índice sobe para 30,8%. O estudo demonstra ainda aumento do número de sedentários no país, que hoje representam 16,4% da população, ou seja, pessoas que não fazem nenhuma atividade física no tempo livre, no deslocamento, na limpeza da casa ou outros trabalhos pesados. Esse índice é 24% maior que o registrado em 2006, quando havia 13,2% de adultos inativos fisicamente.
Nos períodos de descanso, é a televisão que distrai o brasileiro. A pesquisa mostrou que 25,8% dos adultos passam três ou mais horas em frente à TV e isso acontece cinco vezes ou mais na semana. "Isso demonstra que as pessoas optam cada vez mais por um lazer passivo ao invés de praticar esportes ou outras atividades físicas", afirma Deborah Malta.
Para a melhoria da qualidade de vida da população, o governo federal instituiu, em 2006, a Política Nacional de Promoção da Saúde. Desde então, estados e municípios recebem incentivos financeiros para ações de estimulo à prática de exercícios físicos, alimentação saudável e construção de espaços de convivência e lazer.
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