Divulgação Científica- 10/12/2009- Agência FAPESP
Bloquear a manifestação de memórias de medo por meio de um método não invasivo e que não se baseia no uso de drogas. A novidade, que poderá ter implicações importantes no tratamento de problemas relacionados ao medo, acaba de ser demonstrada em artigo na edição desta quinta-feira (10/12) da revista Nature.
Estudos anteriores demonstraram como bloquear tais memórias, mas envolviam o uso de compostos tóxicos e duravam apenas alguns dias. No novo método, Elizabeth Phelps, da Universidade de Nova York, e colegas evitaram o uso de drogas ao se basear na fase conhecida como “reconsolidação” da memória, na qual memórias antigas podem passar por mudanças.
Após treinar voluntários a sentir medo de certos estímulos visuais, os pesquisadores apresentaram uma nova informação “segura” ao mesmo tempo em que reativavam as memórias de medo. Ao fazer isso, eles conseguiram “reescrever” os pensamentos negativos associados com os estímulos.
Os efeitos da intervenção duraram cerca de um ano e aparentemente não afetaram as memórias que não foram reativadas no momento da introdução da nova informação. Os autores do estudo concluíram que as memórias antigas de medo podem ser atualizadas com informações não amedrontadoras.
Os resultados reforçam a hipótese de que as memórias emocionais se reconsolidam a cada vez que são recuperadas. E que o período em que o processo ocorre tornar as memórias vulneráveis a modificações que podem ser induzidas. Ou seja, pode-se livrar o portador da sensação de medo para aquela determinada memória.
“O momento parece ser mais importante para o controle do medo do que imaginávamos. Nossa memória reflete mais a última vez que foi recuperada do que a exata recuperação do evento original”, disse Elizabeth.
Além das implicações no tratamento de distúrbios relacionados ao medo, os resultados apontam que o momento das intervenções terapêuticas tem um papel muito importante para o sucesso dos procedimentos.
“Inspirado em estudos básicos em roedores, essa nova descoberta em humanos poderá ser transferida para o desenvolvimento de melhores terapias para o tratamento de distúrbios de ansiedade, como o estresse pós-traumático”, disse Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, um dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, que financiou a pesquisa.
O artigo Preventing the return of fear in humans using reconsolidation update mechanisms, de Elizabeth Phelps e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
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