quinta-feira, 26 de junho de 2014
Eu e minha bicicleta
Qualquer espaço de tempo que eu tenha, que eu possa sem comprometimento de nada e de ninguém, penso nas minhas lembranças...
Quando eu era criança, andava de velocípede, e uma vez tive uma roubado na ponte que havia (não sei se ainda tem) na Praça Carlos Gomes em Campinas... Talvez naquela época eu tenha sido roubada, porque desci do velocípede e fui atrás de quem estava comigo... Velha mania de não querer ficar só!
Tive algo furtado que me dava prazer, para ir atrás de outro prazer: estar com alguém que amo! Coisas da vida...
Naquela época em que eu era criança, a Praça era cheia de árvores e ninguém via nada além de árvores e arbustos...
Cresci e não tive mais velocípede depois daquele roubado... Era como se eu fosse responsável pelo roubo! Mas eu tinha 5 ou 6 anos...(vejo novamente a mania de culpar-me pelo erro alheio...kkkk).
Tempo passou e fui aprender andar na bicicleta de segunda mão, que minha mãe comprou para mim, ela e todo mundo que vinha em casa e quisesse andar, no quintal de casa, na rua... Saía com um garoto bem mais novo que eu, Serginho, filho da Diva (ela gostava do Rivail da rádio), ele ia na garupa da minha bicicleta para eu aprender andar, de forma que aprendi andar na bicicleta levando alguém na garupa (muito parecido com os dias atuais...kkkk).
Serginho era gordinho, loiro, baixinho, mas cheio de vontade de ajudar, e me ajudou: aprendi andar de bicicleta! Machuquei joelhos, cotovelos, levei tombos, ria, chorava
De aniversário aos 10 anos ganhei uma bicicleta Caloi azul, porque o médico cirurgião plástico Dr. Antonio Carlos Tozzi indicou como coadjuvante para que eu me "tornasse moça" (eu olhava aquilo, aquela conversa e achava engraçado eu saber que eu era mulher, mas eles não acreditavam nisso....kkk) (Na verdade eu já havia operado 2 vezes para arrumar o tal hímen e não adiantava, continuava fechada....kkkkk)
Detalhe importante: eu era obesa, e ninguém falava que era para emagrecer (e não era mesmo!!!!! As pessoas naquela época apenas queriam que você fizesse exercício físico para colocar para fora a energia que tinha dentro do corpo...kkkkk)
Eu andava todos os dias... Tinha vários amigos e amigas, era uma verdadeira turma correndo para não sei onde, de não sei quem... De minha parte juntava o prazer à prescrição médica para evitar nova intervenção cirúrgica.
Fiquei moça (naturalmente, o Dr Tozzi estava certo), e com o tempo os estudos aumentando, a bicicleta foi ficando de lado. Mas eu sabia andar de bicicleta!
Casei, tive filhos, elas tiveram velocípedes, bicicletinhas, e em um momento ganharam a própria bicicleta! Não caíram, nem se machucaram para aprender, também não tiveram velocípedes roubados, e aprenderam andar de bicicleta. Mas as filhas não curtiram a bicicleta como eu!!! Usaram muito pouco, e deixaram elas encostadas!
Não sei dizer se não usaram porque não curtiram, ou porque nossa casa tinha rua com subida e isso dificultava o caminhar sob a bicicleta tranquilamente.
Restou a bicicleta da filha mais velha, porque eu conseguia andar nela.
Até hoje tenho a danada para andar, dou um trato de vez em quando para ela não ficar enferrujada...
Saio equipada: bomba de ar, cadeado e cordão elástico, caso eu precise usar no caminho. Me protejo com protetor solar, prendo o cabelo (rabo de cavalo), coloco boné e óculos escuro, pego a garrafa de água, e em um porta dólar eu coloco meu RG e saio a pedalar...
Hoje precisei subir a avenida empurrando a bicicleta.... Estava com os pneus murchos, e enquanto eu a empurrava, respirava e ia pensando...
Como eu gosto de andar de bicicleta!
Talvez seja um dos maiores prazeres que eu já tenha conhecido na vida, desde a minha infância...
Parei no posto de gasolina e pedi ao moço para encher pneu para mim.
Sai andando... Aquele vento batendo em mim, como se fizesse uma verdadeira limpeza mental estava ótimo...
Um sol de rachar o cano, um calor e eu estava feliz... Estava andando de bicicleta.
Comecei a pensar no porque será que eu gostava de andar de bicicleta e acabei refletindo no seguinte: na bicicleta estou com os pés fora do chão, mas sei que estou em terra firme; tenho óculos para me proteger do vento, e o boné é como se mantivesse o que fosse necessário na cabeça e protegia também meus olhos e meu rosto do sol. Percebi que quando saio de bicicleta eu deixo os braços descoberto... Braços de trabalhar...kkk
Nunca saio com o tronco à mostra, como se resguardasse meu peito, meu coração. Minhas pernas também vão protegidas e meus pés idem. Levo apenas o RG porque caso aconteça algo comigo, não serei entregue ao hospital ou necrotério como alguém sem nome. Saio de casa como saia quando criança, acreditando que nada de mais vai acontecer, além do meu prazer!
Percebo que não sei soltar as mãos do guidão da bicicleta, preciso me manter segura por mim, pelo menos com um braço. Com o vento batendo eu penso então que talvez a bicicleta seja para me mostar o que é passado e o que é presente...
De repente percebo que a calcinha tá parecendo, e sorrio... Arrumo a camiseta e digo pra mim: se fosse antigamente eu ficaria impressionada de estar com a calcinha à mostra, mas hoje, hoje eu nem ligo para o que os outros (que eu não conheço) imaginam do que vêem em mim... (tô tentando melhorar isso , diariamente, com as pessoas que conheço!!!!!)
Você pedala para ir pro futuro, mas o futuro é o presente que te tirou do passado quando tudo era inércia...kkk
Por isso gosto da bicicleta: presente e passado, mas o futuro eu nem sei se ele vem, então curto o agora e as lembranças de outrora...
Minha bicicleta tem marchas e eu não manuseio muito bem as marchas, ando na bicicleta, mas preciso dominar as marchas (será uma questão de tempo...kkk) (percebo como sou assim: não tenho limite, então como reduzir ou acelerar??? kkk)
Nesta estória de ficar mudando as marchas, de repente a corrente da bicicleta solta e.... eu perco o pedal e quase caio! Só não cai, porque tive um tronco na esquina para me apoiar. Desço da bicicleta e fico pensando em como era simples colocar corrente de bicicleta na minha infância... Eu adorava ficar com a mão suja de graxa e realizar algo para mim... Agora a corrente era mais difícil, parece que tem andares de colocar os elos da corrente... Andava um pouco e ficava tentando colocar a corrente, tentando entender o mecanismo da bicicleta...
Pensei que não seria tão ruim ficar sem a corrente, afinal eu pegaria descida, não ia precisar pedalar... Mas a frustração de não conseguir realizar aquilo que me propus andes de sair de casa: andar de bicicleta, mexia comigo... E de repente a tentativa deu certo! Consegui encaixar a corrente e para me parabenizar pela façanha vou andar mais um pouco antes de ir embora...
Me despeço da paisagem, estou livre! Livre do peso dos pensamentos, livre para respirar, solto as pernas, e a bicicleta me leva... é como se eu estivesse sendo levada por mim, segura, absolutamente segura, e solta de preconceitos e pensamentos enfadonhos...
Ufa, cheguei em casa! Tranquila! Serena! Realizada!
Como é bom você saber do que você gosta e realizar seu próprio desejo!
Quando pedalarei novamente? Não sei!
Tenho certeza de que devo proceder esta façanha com mais frequência: ir atrás do meu desejo e realizá-lo!
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