sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A TOUTINEGRA, O POMBO E O PEIXINHO. Uma Fábula


(À Sra. e Sta. C., de Bourdéus – de C. Dombre – Dezembro de 1861/ Revue Spirite – Journal D’Etudes Psychologiques)

Em meio a uma roseira, à margem de um cercado,

Havia a toutinegra posto a sua ninhada.

Nascera bem feliz aquela petizada.

Mas um desastre, oh Deus! lhe estava reservado!

Entre os fogos do céu a tormenta rugiu

E a chuva em torrentes caiu.

Nos campos se formou vastíssimo lago

E pronto inundou-se o cercado.

Já longe da roseira o ninho se balança;

A ave, sobre as águas, o protege ansiosa;

Não leva o coração firmado na esperança;

Bem distante cintila a estrela generosa; entanto, escorre a água; e com a água da vargem

O riacho recebe o ninho balouçante

Que apesar dos escolhos semeados na margem

Atinge facilmente o leito expectante.

Pelo meio do rio, um banquinho de areia

Se eleva acima das águas;

Ajudada por zéfiro amigo, uma vaga

Para ele impeliu a barquinha tão cheia.

Tocando-lhe a horda, a pobre ave,

Ao sentir da alegria o primeiro transporte,

Caiu logo depois a tristeza grave:

Nesse lugar, qual será a sua sorte?

Seus pequeninos já pediam alimento.

Devia ela, para ir longe procurá-lo,

Ali expostos na areia abandoná-los?

Se haviam sido salvos numa vaga amiga,

Não deviam temer uma vaga inimiga

Ou o funesto efeito de um golpe de vento?

No mesmo instante, ali pousa um pombo-trocaz.

“desculpai-me, diz ela, ó meu pássaro audaz,

Apelar para vossa bondade:

Trato da salvação de toda uma família.

Oh, devolvei ao campo e à roseira tranquila estas pequenas vítimas da tempestade.

Dignai-vos abrir as asas generosas.

Não é tão longe, e as vossas garras vigorosas

Jamais levaram assim uma carga tão leve.”.

Nas se fez surdo o pombo a essa voz.

E em tom breve:

“Eu deploro o vosso infortúnio,

Mas tenho a lamentar que um caso de pecúlio,

Exigindo que eu siga do meu voo o curso,

Me prive da alegria de vos dar concurso.

Mas ficai sem inquietude

E segui o conselho que a solicitude

Me torna feliz de vos dar:

Confiai na vossa sorte... o gênio benfeitor

Que a vida vos salvou, não há de se indispor

Convosco e vos abandonar.”

E contente de si, aos ares se lançou.

Uma pequena carpa, a nadar, escutou

E tudo viu, tudo entendeu.

“Consolai-vos, disse ela, ó mãe desesperada!

Mas ainda nem tudo se perdeu.

Não disponho de forças para repartir,

Mas espero poder vos conduzir”.

E , pegando na boca um longo filamento,

Abundante na espessura do ninho,

O puxou, deslizando em seu caminho.

A toutinegra, em pé, habilmente o ajudava,

De asas abertas ao vento.

A carga se inquietou, e o peixe que puxava, para flutuar sereno a marcha equilibrava, evitando as correntes na passagem.

Já estão perto da borda... e chegaram!

A toutinegra alegre e os filhos encontraram

Farta relva e bom mato pela margem,

E o peixe então lhe diz: “No porvir, pelo menos,

Nos grandes não confiai; o clamor da miséria

Só francamente ecoa em corações em férias;

Seus dons são o conselho e a condolência.

Mas a cordial assistência

Só se encontra nos pequenos”.